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Poeta João Quinto Sobrinho – Síntese biográfica

Há controvérsia sobre o local de nascimento do poeta popular paraibano João Quinto Sobrinho, pois na página 569 da obra Literatura Popular em Verso: antologia (1986), encontramos a informação que “[…] nasceu no Município de Cuité ou Cajazeiras, Estado da Paraíba”. Já no verbete da Enciclopédia Itaú Cultural, encontramos registro de que nasceu no município de Areia, onde consta como data de nascimento 24 de junho de 1900 e a de falecimento o ano de 1983, na cidade de Juazeiro do Norte (CE).

João Quinto Sobrinho “Mudou o nome para João de Cristo Rei, por ter alcançado graças numa promessa que fez ao Cristo Redentor” (LITERATURA …, 1986, p. 569).

O nome adotado por João Quinto Sobrinho, os nomes de santos que deu aos seus quatro filhos: Francisco de Assis, João Bosco, José Maria e Maria das Virgens e a sua verve poética demonstram sua religiosidade e devoção a julgar pelo número de cordéis dedicados a santos católicos, como afirma Lopes (1994), citado por Stinghen (2000, p. 66-67)

Falar em João de Cristo Rei é, de certa forma, falar sobre o ‘Movimento Religioso de Juazeiro’. Por intermédio de vários cordéis, esse talentoso poeta popular assumiu, em certo sentido, o papel de “porta-voz” das idéias e dos ideais que circula(va)m no imaginário dos fiéis devotos do Pe. Cícero. Dessa forma, estudar sua vida, sua poesia, significa, inevitavelmente, penetrar numa complexa rede de crenças do imaginário popular do Sertão. Há um sabor de coletividade quando falamos em João de Cristo Rei. O seu “perfil” confunde-se com o rosto dos peregrinos.

Viveu 52 anos em Juazeiro do Norte, entre os anos 1931 e 1983, mas antes de ir para o Ceará, ele foi professor de poesia do poeta paraibano José Clementino de Souto (LITERATURA …, 1986; OLIVEIRA; NICOLAU, 2007). De suas obras poéticas, apresentamos trecho do folheto História da Guerra de Juazeiro em 1914.

Vou descrever a batalha
Da guerra de Juazeiro,
Para se vê entre a luta
De metralha e Fuzileiro
O poder de meu Padrinho
A vitória do romeiro.
 
Antes de travarem a luta
Meu Padrinho disse assim:
— O governo do Estado
Se revoltou contra mim,
Para tomar Juazeiro
Prender tudo e me dar fim
 
Mas ele está enganado
Aqui não entra ninguém
Juazeiro é todo meu
E da mãe de Deus também
Parte aqui na minha terra
O cão, não teve e nem tem.
 
Não tenho medo de homem
Por mais que seja graúdo,
Acima de mim só Deus
Homem rico e casacudo
Querendo me dominar
Se derrota e perde tudo.
 
E disse ao Doutor Floro
Vamos cavar os valados
Que Franco Rabelo vem
Com seus batalhões armados
E nós não temos trincheiras
Para enfrentar os malvados.
(REI, 2014)

FONTES CONSULTADAS

JOÃO de Cristo Rei. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5869/joao-de-cristo-rei&gt;. Acesso em: 01 Out. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

OLIVEIRA, Diana Reis de; NICOLAU, Marcos. José Alves Sobrinho sob o olhar da câmera: o processo de construção de um vídeo documentário sobre um mestre de cultura popular. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 30., 2007, Santos: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0190-2.pdf&gt;. Acesso em: 2 out. 2017.

REI, João de Cristo. História da guerra de Juazeiro em 1914. [S.l. : s.n.]. In: O BERRO NET. 20 mar. 2014. Disponível em: <http://oberronet.blogspot.com.br/2014/03/historia-da-guerra-de-juazeiro-em-1914.html&gt;. Acesso em: 2 out. 2017.

STINGHEN, Marcela Guasque. Padre Cícero: a canonização popular. 2000. 171 f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, 2000.

Poeta João Chaves – Síntese biográfica

Exímio cordelista, trovador, compositor, intérprete, seresteiro e músico que tocava flauta, pistom e viola, tendo sido também jornalista, advogado e político. Autodidata eclético das artes às leis, João Chaves, filho de ilustre família montes-clarense, do prof. João Antônio Gonçalves Chaves e Dona Júlia Prates Chaves, nasceu em Montes Claros (MG) em 22 de maio de 1885 e morreu faltando 11 dias para completar 85 anos, ao 11º dia do mês de maio de 1970, na sua cidade natal (AZEVEDO, 1978; COTRIM, 2011; JOÃO…, [20–]).

Azevedo apresenta João Chaves como um dos “nomes mais expressivos da genuína literatura informativa, de cordel de Minas Gerais” (AZEVEDO, 1978, p. 17).

Joãozinho, como era chamado por familiares e amigos, desde cedo apresentava suscetibilidade para as letras, pois gostava de ler e escrever, tendo escrito seu primeiro poema aos oito anos de idade, intitulado Triste Recordação, onde narra o incidente ocorrido aos três anos, quando se perdeu na fazenda do tio (JOÃO…, [1985?]).

Triste Recordação
 
Eu tinha apenas três anos,
Estava na flor da vida,
Precisava dos carinhos
Da minha mãe tão querida.
 
Eu era muito criança,
Não me sentia inda forte,
Arrastado pelo fado,
Eu fui cumprir minha sorte.
 
Fiquei perdido no mato,
Ouvindo feras bravias,
Dormi nas trevas da noite
Ao canto d’aves ímpias.
 
Fiz da camisa lençol,
Da calça fiz meu calção;
Do casaco, travesseiro,
Fiz minha cama no chão.
 
Assim a noite passei;
N’outro dia me encontraram.
Papai e mamãe vieram
E todos os dias me abraçaram.
 
Fui encontrado roído
De formiga e de cupim.
Todos choraram deveras,
Todos choraram por mim.
 
(AZEVEDO, 1978, p. 103)

Com os padres da Congregação Premonstratense da Bélgica, aos 19 anos, estudou história, francês, literatura, poesia, música e teatro. Devoto da Virgem Santíssima o levou a compor o Hino a Nossa Senhora, também conhecido como Pelas Horas Matutinas (JOÃO…, [1985?]).

A fértil imaginação do cordelista foi propagada nos poemas História de uma Exilada, Separação de Noivos, A Filha do Czar e A Religiosa Prisioneira (JOÃO…, [1985?]).

Aos 30 anos, casou-se com Maria das Mercês de Figueiredo, no dia 21 de junho de 1915, tendo-a como companheira de toda a vida e com quem teve onze filhos: Ulpiano, José, Raimundo, Sidney, Henrique, Maria de Lourdes, Lígia, Risoleta, Maria Aparecida, e duas Marias do Rosário (JOÃO…, [1985?]).

Autor de inúmeras poesias, homenageado por Jackson Antunes com o Cordel de João Chaves, esse artista ímpar compôs modinhas, muitas em parceria com Teófilo de Azevedo Filho, ou simplesmente Téo Azevedo. A modinha Amo-te Muito (1910), sucesso internacional, é uma de suas composições, considerada obra-prima do cancioneiro mineiro (AZEVEDO, 1978).

Amo-te Muito
 
Amo-te muito, como as flores amam
O frio orvalho que o infinito chora.
 Amo-te como o sabiá-da-praia
Ama a sangüínea e deslumbrante aurora.
 Oh! Não te esqueças que te amo assim.
Oh! Não te esqueças nunca mais de mim.
 
Amo-te muito como a onda à praia
e a praia à onda, que a vem beijar...
 Amo-te tanto como a branca pérola
Ama as entranhas do infinito mar.
Oh! Não te esqueças que te amo assim.
 Oh! Não te esqueças nunca mais de mim
 
Amo-te muito, como a brisa aos campos
e o bardo à lua derramando luz.
 Amo-te tanto quanto amo o gozo
e Cristo amou ardentemente a cruz.
Oh! Não te esqueças que te amo assim.
Oh! Não te esqueças nunca mais de mim

Vencedor do I Concurso de Seresta de Minas Gerais, realizado na cidade mineira de Ouro Preto em 20 de abril de 1967, por isso patrono da seresta de sua cidade natal. Também compôs Adeus, canção que ficou conhecida como O Bardo, serenata em tributo ao amigo Manoel Silva Reis, falecido em 1908 (AZEVEDO, 1978; COTRIM, 2011; JOÃO…, [20–]).

Foi jornalista em Montes Claros onde fundou A Palavra (1909) e O Sol (1913). Este último com primeiro número publicado em 27 de agosto de 1914, sendo que os dois jornais eram publicados semanalmente. Em Bocaiúva, fundou o jornal A Defesa. Em todos os jornais, registrou e difundiu seu talento literário poético de compositor (JOÃO…, [1985?]; JOÃO…, [20–]).

Em 1917, venceu as eleições para vereador de Montes Claros, exercendo o mandato por apenas dois anos (1917-1919). (JOÃO…, [1985?]).

Como patrono da cadeira de número 31 da Academia Montes-clarense de Letras, o nome do poeta João Chaves foi imortalizado.

FONTES CONSULTADAS

AZEVEDO, Teófilo de. Literatura popular do norte de minas: a arte de fazer versos. São Paulo, 1978.

COTRIM, Dário. Vitrine literária. O Norte de Minas, Montes Claros, out. 2011. Caderno de Modinhas. Disponível em: <http://cms.hojeemdia.com.br/preview/www/2.917/2.925/1.468517/1.474565&gt;. Acesso em: 28 set. 2017.

JOÃO Chaves. [S.l.: s.n.]. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. [20–]. Disponível em: <http://dicionariompb.com.br/joao-chaves&gt;. Acesso em: 28 set. 2017.

JOÃO Chaves: o último bardo, sua vida e sua obra. . [S.l. : s.n.]. In: João Carlos: eternas lembranças. [1985?]. Disponível em: <http://montesclaros.com/joaochaves/img/livr/chaves.htm&gt;. Acesso em: 29 set. 2017.

Poetisa Izabel Cristina Santana do Nascimento – Síntese biográfica

Sergipana de Aracaju, a pedagoga, poetisa e cordelista Izabel Cristina Santana do Nascimento é filha do casal de poetas populares pernambucanos, Pedro Amaro do Nascimento e Ana Santana do Nascimento, radicados em Aracaju (NASCIMENTO, 2004; NASCIMENTO, 2017; NASCIMENTO [2017?]).

Izabel Nascimento nasceu no dia 22 de agosto de 1979 e provou que herdou a veia poética dos pais, com apenas 7 anos começou a escrever seus primeiros versos e com 13 anos o primeiro folheto, Um falso amor (1993), que foi publicado em 2004 (NASCIMENTO, 2004; NASCIMENTO, 2017; NASCIMENTO [2017?]).

Um falso amor
 
Vou falar do que senti
Por alguém que encontrei
Que mudou a minha vida
Outro igual, jamais amei
Transformou tudo em mim
Hoje sei que até o fim
Desse amor, dependerei
 
O fato que contarei
Lhe será surpreendente
Envolve a minha vida
E a vida de muita gente
A história desse alguém
A que eu queria bem
Me mudou completamente
 
Eu ainda era inocente
Quando, minha mãe, perdi
Só Deus sabe o que passei
O quanto chorei e sofri
Mas depois de tanta dor
Encontrei Um Grande Amor
Compensou o que senti
 
Ao levarem mamãe dali
O meu pai sofreu demais
Quase que enlouqueceu
Não se conformou jamais
De tanto que se amavam
Todos os consideravam
O mais Feliz dos Casais
 
Nos instantes funerais
Eu, então, sofri também
Entre amigos e família
Não compareceu ninguém
Tendo que me confortar
Precisava encontrar
O Carimho de alguém
 
Não revelei a ninguém
A tristeza que sentia
Tudo o que mais desejava:
Esquecer aquele dia
Livrar-me daquela dor
Encontrar Um Grande Amor
Que me trouxesse Alegria
 
[...]
(NASCIMENTO, 2004, grifo do autor)

Premida no Concurso de Poesias do Jornal da Cidade de Aracaju (2009) com o cordel São João em Sergipe: danado de bom, Izabel Nascimento sempre foi motivada no ambiente familiar, com os pais poetas (NASCIMENTO, 2004; NASCIMENTO, 2017).

Cordel de Pai e Filha
 
I - Pedro Amaro, eu admiro
A pessoa que tu és
Teu talento, tua força
Tua vida, sem revés
Que Deus, com sabedoria
Permita que eu chegue, um dia
Ao alcance dos teus pés
 
P - Teus versos são pura Arte
A Constelação que brilha
Neste teu jardim poético
És a Nona Maravilha
Eu me sinto uma fagulha
Pois teu Pai muito se orgulha
Em ter você como filha
 
I - Tua forma de escrver
Eu herdei a mesma trilha
Tua personalidade
É Astro que sempre brilha
Em Prosa, Verso ou Repente
Orgulho-me imensamente
Porque sou a tua filha
 
P - Os teus Talentos são dons
Virtudes que ninguém tira
Nos campos da Poesia
Uma Musa te inspira
Se o mundo rejeitar-te
Se ninguém admirar-te
O teu Pai te admira
 
I - Exemplo de Honestidade
Por Jesus abençoado
Coerente, tolerente
Genoroso e humorado
És um sábio destemido
Pelos amigos, querido
E por todos nós amado
 
P - Admiro porque és
Poetisa, filha e amiga
Pois no decorrer dos anos
Pode aparecer quem diga
Que teu sucesso é brilhante
Teus versos como um gigante
Os meus como uma formiga
 
(AMARO; NASCIMENTO, 2008)

Izabel Nascimento afirma que também foi inspirada pelos poetas João Firmino Cabral, Manoel D’Almeida Filho e Leandro Gomes de Barros (NASCIMENTO, 2004; NASCIMENTO, 2017).

Em entrevista a Oliveira Caruso, publicada no site Reino dos concursos, ao ser questionada sobre frequência e gênero que lê, respondeu: Gosto de ler Cordel. Recentemente, tenho me dedicado às leituras teóricas sobre a Literatura de Cordel e mergulhado no campo da pesquisa. Como passei a conhecer muitos poetas cordelistas através das redes sociais, tenho lido os cordéis que recebo de presente destes amigos. Além de meu pai, Pedro Amaro, leio e releio os folhetos do saudoso sergipano João Firmino Cabral, me encanto com a alegria dos versos do meu conterrâneo e amigo, o Poeta João Batista Melo, me impressiono com a grandeza dos versos do paraibano Zé de França, aprecio a coesão dos versos do grande Moreira de Acopiara e pesquiso na fonte inesgotável que deixou o grande Patativa do Assaré (NASCIMENTO, [2017?]). 

FONTES CONSULTADAS

AMARO, Pedro; NASCIMENTO, Izabel. Cordel de pai e filha. Aracaju, [S.l. : s.n.], 2008. In: Cordelteca do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP). Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=cordel&pasta=&pesq=IZABEL%20NASCIMENTO&gt;. Acesso em: 20 ago. 2017.

NASCIMENTO, Izabel Cristina Santana do. Formulário. [S.l. : s.n.]. In: Memórias da poesia popular. 15 abr. 2017. Disponível em: <https://memoriasdapoesiapopular.com.br/poeta-conte-sua-historia/&gt;. Acesso em: 20 ago. 2017.

NASCIMENTO, Izabel. Entrevista com Izabel Nascimento. Entrevistador: Oliveira [S.l. : s.n]. In: Reino dos concursos. [2017?]. Disponível em: <http://www.reinodosconcursos.com.br/entrevista-com-izabel-nascimento&gt;. Acesso em: 20 ago. 2017.

NASCIMENTO, Izabel. Um falso amor. Aracaju, [S.l. : s.n.], 2004. In: Cordelteca do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP). Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=cordel&pagfis=84266&gt;.  Acesso em: 20 ago. 2017.

  

Poetisa Gilmara Cláudia Silva – Síntese biográfica

A bonfinense Gilmara Cláudia Silva é cordelista que usa o pseudônimo Anastácia. Natural do município baiano Senhor do Bonfim, amante de cordel, em 2003 começou a versar as histórias da própria vida, e esse verbo próprio a fez adentrar o universo da poesia popular (A VIDA …, [2007?]).

Desfile Quase Afro!
 
Falo de desfile afro
Uma ideia até legal
Pensando em combater
O preconceito racial
Mas é preciso atenção
Pois a discriminação
Se tornou algo normal

É um tal de dança afro
Como auge musical
Concurso até de receitas
De comida cultural
Mas a tal sociedade
Não abandona a maldade
Na maior cara de pau
 
O ‘Afro’ virou esporte
Programa de televisão
Virou até fantasia
Para a discriminação
Que encarnou no brasileiro
Lobo em pele de carneiro
Deixe disso meu irmão
 
Minha mãe já me dizia
Um provérbio popular
Quebra a cara quem não quer
A verdade enxergar
Tapar o sol com a peneira
Pra encobrir a sujeira
Para o negro tapear
 
Ninguém mais quer relembrar
Do tempo da escravidão
De escravo e de senhor
De senzala ou capitão
Que o negro oprimia
De noite e também de dia
Naquele velho porão
 
Isso é rixa do passado
Dizem os grandes escritores
Falemos da beleza afro
Ao negro demos louvores
Mesmo que hoje em dia
Vivam nas periferias
Sofrendo os mesmos horrores
 
O Brasil olhando o negro
E dizendo: muito bem!
 Conseguiram apanhar
E ficar dizendo amém
Hoje ainda explorado
Repetindo seu passado
Da vida ficando aquém
 
Quero só que fique claro
Nos eventos culturais
Que afro não é enfeite
Para grupos teatrais
O negro com atitude
Com desfile não se ilude
Precisa de muito mais
 
(ANASTÁCIA, 2007)

FONTES CONSULTADAS

A VIDA em cordel. [S.l.: s.n.]. In: Blog a vida em cordel. [2007?]. Disponível em: <http://avidaemcordel.blogspot.com.br/2007/11/contra-o-preconceito.html&gt;. Acesso em: 8 ago. 2017.

ANASTÁCIA. Desfile quase afro. [S.l.: s.n.]. In: Recanto das letras.7 ago. 2007. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/cordel/597421&gt;. Acesso em: 8 ago. 2017.

Poeta Galdino Silva – Síntese biográfica

O cordelista e embolador Galdino Silva nasceu na cidade de Salvador no estado da Bahia, em 1878, onde viveu até o seu falecimento em 1958, aos 80 anos (LITERATURA…, 1986). Utilizando recurso estilístico de linguagem comum ao cordel, o apóstrofe, para invocar um interlocutor, Galdino Silva fazia seus poemas, a exemplo do cordel intitulado:

A Mulher que Pediu um Filho ao Diabo
 
Leitores eu vou contar
Uma história verdadeira
De uma infeliz mulher
Que um dia fez uma asneira
Pediu um filho ao Diabo
E o filho nasceu de rabo
E mordeu a mão da parteira.
 
Esta mulher se chamava
Felismina do Orobó
Casada com Chico Inaço
No sertão do Chorrochó
Ela vivia zangada,
Pois tanto tempo casada
Nunca teve um filho só.
 
Quem pede a Deus e tem fé
Será dado, tarde ou cedo
Quem pede a Deus há de ter
Quem tem fé move rochedo
E quem pede a Satanás
Só tem de cair pra trás
Pois tudo dele faz medo.
[…]
(LITERATURA…, 1986, p. 266)

FONTE CONSULTADA

LITERATURA popular em verso: antologia. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986. Coleção reconquiste o Brasil. Nova série; v. 95.

Poeta Franklin de Cerqueira Machado – Síntese biográfica

O poeta baiano Franklin de Cerqueira Machado nasceu em Feira de Santana em 15 de março de 1943. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 16 anos (1960), mas só ficou por poucos meses. Foi para Salvador, onde concluiu o curso secundário no Colégio da Bahia. Ficou um ano sem estudar, vindo a graduar-se em Direito, pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e escolheu dedicar-se tão-somente à literatura de cordel a partir de 1975(CORDEL …, 2007; LEITE, 2014; SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Retorna para a terra natal em 1966, já bacharel em Direito, quando também publicou seu primeiro livro intitulado Álbum de Feira de Santana (SANTOS; QUEIROZ, 2015).

O autor de A Volta do Pavão Misterioso é assim descrito por Santos e Queiroz: “[…] poeta, dramaturgo, xilógrafo, ator, estudioso de cordel, dentre outras artes, sendo considerado um divisor de águas na literatura de cordel, pois seus folhetos e xilogravuras foram vendidos em todo o Brasil (2012, p. 94)”. Franklin Maxado (ou Maxado Nordestino) teve sua produção estudada pelo especialista em cangaço, Antônio Amaury Corrêa de Araújo (CORDEL …, 2007).

Maxado Nordestino também escreveu sobre o gênero literário popular em três obras, consideradas referências no gênero: O Que É Literatura de Cordel (1980), Cordel, Xilogravura e Ilustrações (1982) e O Cordel Televivo: futuro, presente e passado da literatura de cordel (1984) (SANTOS; QUEIROZ, 2012; TEIXEIRA, 2009).

A convite do jornalista Juarez Bahia, Franklin Machado foi para São Paulo (1971), onde passou quinze anos. Na antiga terra da garoa, trabalhou na redação dos jornais: “Folha de São Paulo, Diário Popular, sucursal de A Tribuna, de Santos, e no Diário do Grande ABC […]” (LEITE, 2014; SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Anteriormente, em Salvador, fez parte do Jornal da Bahia (1967), onde foi responsável pela criação da primeira sucursal desse jornal no interior da Bahia e colaborou com o jornal O Pasquim. Em Feira de Santana, fundou a sucursal das Emissoras e Diários Associados (LEITE, 2014; SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Ao retornar para a Bahia (1985), Edvaldo Boaventura (secretário de governo) convidou Maxado para trabalhar na TV Educativa, vindo a criar o comentário em cordel, no jornal diário (SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Mas o que é o cordel para esse poeta e estudioso da poesia popular? “[…] é poesia; é gráfica; é canto; são as artes plásticas; é música, é teatro; é jornalismo; e é comércio. E ainda é até esporte, pois o poeta carrega sua mala para a feira, e em viagens exercita os músculos” (SANTOS; QUEIROZ, 2012, p. 95 apud MAXADO, 1980, p.124).

De acordo com as pesquisadoras Santos e Queiroz (2015, p. 306), ainda na década de 60, Maxado uniu-se a artistas e intelectuais de Feira de Santana onde atuou no teatro, encenando e escrevendo, e em

[…] 1971 apresentou o espetáculo músico-teatral “Terra de Lucas”, como uma maneira de se despedir de sua cidade, pois havia decidido partir para São Paulo. […].

Na capital paulista, o escritor também se dedicou às questões artísticas, participando de apresentações e recitais, conheceu inúmeros outros artistas em início de carreira, como, por exemplo, Torquato Neto, Belchior, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Mas foi em seu estado de origem que encontrou um artista, o poeta Rodolfo Cavalcante, que, segundo o próprio autor, foi quem o fez ver a possibilidade de se tornar um poeta de cordel. […].

Maxado é autor de inúmeras obras cordelísticas, com centenas de publicações, além de participar de antologias de poetas e publicar livros de poemas eruditos, como Protesto à Desuman-idade (1970), Profissão de Poeta (1988) e Negramafricamente (1995) (SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Franklin Maxado usa o próprio nome como mote, como nos mostram Santos e Queiroz (2012, p. 97).

M – aneirei até demais
A sua vida de verdade.
X – amo atenção para a letra
A, de arte, artesidade.
D – o criador, esperamos
O poder da eternidade

Geraldo Leite, em seu blog Filhos Ilustres da Bahia, descreve o poeta por ele mesmo.

Maxado Nordestino, diz ele, foi meu nome quando me lancei profissionalmente no cordel. Franklin Maxado é meu nome artístico e literário, daí Franklin Machado Nordestino. Em xilogravura assino F. Maxado ou somente F.M. pois diminui o número de  letras para cortar na madeira. Maxado para fixar uma marca e Nordestino porque no sul me identificaram como “o nordestino” e isso reafirma minhas origens e cultura (LEITE, 2014).

Referência no gênero, a Editora Hedra organizou uma antologia com cinco de seus trabalhos mais significativos.

FONTES CONSULTADAS

CORDEL – Franklin Maxado. In: HEDRA. [S.l. : s. n.]. [2007?]. Disponível em: <https://www.hedra.com.br/livros/cordel-franklin-maxado&gt;. Acesso em: 10 mar. 2017.

Poeta Francisco Severino da Silva – Síntese biográfica

Chico Mulungu é o pseudônimo do poeta popular paraibano Francisco Severino da Silva, que faz jus à sua cidade natal, pois Chico nasceu em um município da microrregião de Guarabira, Mulungu, distante 100,2 km da capital paraibana. Quando jovem, ele foi trabalhar e estudar na capital paraibana (João Pessoa), onde residiu em uma república estudantil com um amigo. O poeta Chico Mulungu recorda:

[…] comi o pão que o diabo amassou, mas felizmente consegui trilhar pelo caminho do bem na vida. Em 1982, cheguei a São Paulo, cidade onde vivi por vários anos, até ser acometido por um câncer maldito em 1986. Casei-me em 1988 no Rio de Janeiro e um ano depois voltei definitivamente para minha Paraíba para fixar residência em Guarabira, cidade onde vivo até hoje. Tenho como estímulo para minha vida, filhos, neto e a poesia! (FORMULÁRIO 15, 2017)

O poeta nasceu no dia 24 de agosto de 1965 e iniciou a sua produção cordelística tardiamente, aos 50 anos (2015), mas já publicou, de forma independente, mais de dez títulos, porém começou a escrever poesia ainda adolescente, com catorze anos (1979) (FORMULÁRIOS 8 (2017); FORMULÁRIO 9 (2017); FORMULÁRIO 15 (2017).

Seu primeiro cordel é intitulado O Bêbado e a Mercearia Cultural, que faz parte da série cordel encarnado, composta de 13 cordéis: 2 – Minha Vida é uma Viagem (09/2015); 3 – Guarabira da Feira ao Celeiro de Artistas (10/2015); 4 – Pela Décima Vida Severina (11/2015); 5 – AMECC 25 Anos Acolhendo Crianças e Adolescentes (11/2015); 6 – Toque de União no Natal (12/2015); 7 – Na Feira de Mangaio (em parceria com Severino Honorato – 03/2016); 8 – Guarabira Capital Nordestina do Cordel (04/2016); 9 – Flor de Mulungu (05/2016); 10 – Mamulengo Chico Tampa, Babau na Paraíba & Patrimônio Cultural do Brasil (06/2016); 11 – O Bêbado e a Mercearia Cultural – 2. ed. (07/2016); 12 – Cidade Luz da Paraíba (11/2016); 13 – Toque de União do Natal – 2. ed. (12/2016).

Além dos cordéis, Chico Mulungu lançou, em 2015, um livro infantojuvenil intitulado Fio-fio Cabelos de Sapo em a Multiplicação do Ovo (SANTOS, 2015).

Chico Mulungu afirma que sua verve poética popular é inspirada no conterrâneo Severino Honorato (Don Severo), além de grandes poetas populares, como Antônio Francisco, José Camelo de Melo Rezende, Leandro Gomes de Barros, Manoel Camelo dos Santos, Manoel Camilo dos Santos e Patativa do Assaré (FORMULÁRIOS 8 (2017); FORMULÁRIO 9 (2017); FORMULÁRIO 15).

Eis uma das poesias de Francisco Severino da Silva:

MAMULENGO CHICO TAMPA
 
Assim é o Chico Tampa
Um boneco popular,
Criação de bonequeiro,
Feito para encantar
E ao mundo da criança
Trazer boa esperança,
Ternura pra todo olhar.
 
É até muito comum
Pelos rincões nordestinos
A presença dos fantoches,
Mamulengos peregrinos,
Viajantes sim senhor
Com seu apresentador,
Ligados pelos destinos.
 
Conheci o Mestre Clébio
Nas ruas de Guarabira,
Importante bonequeiro
Que o babau admira,
Trazendo na sua mala
Personagens que embala
E encanta, sem mentira.
 
Em mala de bonequeiro
Deve ter bom figurino.
Saber vestir os bonecos,
Homem, mulher ou menino,
É dar vida a espetáculos
Nas praças, nos tabernáculos
Do interior nordestino.
(MAMULENGO, 2017)

O poeta rememora ainda que o pai também o estimulou para a literatura de cordel, por ser um amante incondicional dessa arte, pois tinha o hábito de adquirir os folhetos para ler para uma plateia em sua residência (FORMULÁRIO 15, 2017).

Membro da Academia Virtual de Letras António Aleixo (AVL), ele ocupa a cadeira 24, cujo patrono é José Lins do Rego (APOGEU …, 2017; FORMULÁRIO 9, 2017; ). O poeta é casado com Maria de Lourdes Pereira da Silva.

FONTES CONSULTADAS

APOGEU Poético: Homenagem Póstuma ao Patrono da AVL António Aleixo – Chico Mulungu. In: Academia Virtual de Letras António Aleixo. [S.l. : s.n.]. 26 nov. 2016. Disponível em: <http://academiavirtualdeletrasantonioaleixo.blogspot.com.br/2016/11/apogeu-poetico-homenagem-postuma-ao_86.html&gt;. Acesso em: 15 maio 2017.

MULUNGU, Chico. Mamulengo Chico Tampa. In: O Cordel Encarnado de Chico Mulungu. [S.l. : s. n.]. 29 jun. 2016. Disponível em: <http://martinhoalves.blogspot.com.br/2016/06/o-cordel-encarnado-de-chico-mulungu.html&gt;. Acesso em: 15 maio 2017.

SANTOS, Anderson. Escritor Chico Mulungu lança o livro “FIO-FIO CABELOS DE SAPO EM A MULTIPLICAÇÃO DO OVO. In: Portal mídia. [S.l. : s.n.]. 12 set. 2015. Disponível em: <http://portalmidia.net/escrito-chico-mulungu-lanca-o-livro-fio-fio-cabelos-de-sapo-em-a-multiplicacao-do-ovo/&gt;. Acesso em: 15 maio 2017.

SILVA, FRANCISCO SEVERINO DA. Formulário 08, respondido online no blog Memórias da Poesia Popular em 11/03/2017. Disponível em: <https://memoriasdapoesiapopular.com.br/>.

SILVA, FRANCISCO SEVERINO DA. Formulário 09, respondido online no blog Memórias da Poesia Popular em 11/03/2017.Disponível em: <https://memoriasdapoesiapopular.com.br/>.

SILVA, FRANCISCO SEVERINO DA. Formulário 15, respondido online no blog Memórias da Poesia Popular em 16/04/2017.Disponível em: <https://memoriasdapoesiapopular.com.br/>.

Poeta Francisco Barboza Leite – Síntese biográfica

Artista plural que nasceu na morada dos urus, Uruoca, Ceará, em 20 de março de 1920. Aos 16 anos, mudou-se para Fortaleza (CE) para dar continuidade aos estudos, onde conheceu as artes visuais. Em 1941, participou de salões organizados pelo Centro Cultural de Belas Artes (CCBA) onde foi premiado e em 1944 foi partícipe do grupo de fundadores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) (20 DE MARÇO…, 2011; BARBOSA…, [21–]; FRANCISCO …, [21–]).

Barboza Leite, filho de uma agente ferroviário, foi um artista autodidata que trilhou as mais diversas esferas do fazer artístico criativo, de folclorista a cordelista, xilógrafo, fotógrafo, pintor, jornalista, ensaísta, cenógrafo, ator e compositor (FRANCISCO …, [21–]).

Residindo no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias, o artista coordenou a Escolinha de Arte da Fundação Álvaro Alberto. Colaborou na criação do Teatro Municipal Armando Melo (1967) e do Conselho Municipal de Cultura, além da Escola de Artes da Secretaria de Cultura, tendo sido, respectivamente, presidente por dois anos e seu primeiro diretor (FRANCISCO …, [21–]).

Fez parte da Orquestra Sinfônica de Duque de Caxias, compondo canção que se tornou hino do município, e participou da elaboração da proposta de criação da Secretaria de Cultura do Município (1991) (FRANCISCO …, [21–]).

Desenvolveu projetos culturais: Salões de Artes Plásticas, a Feira do Folclore Nordestino e a 1ª Feira de Artes de Duque de Caxias. Por toda a sua atuação na esfera da cultura caxiense, o dia do seu aniversário passou a ser o Dia Municipal da Cultura no Município de Duque de Caxias no Rio de Janeiro (20 DE MARÇO…, 2011).

Na esfera das letras, publicou livros e cordéis. Seu primeiro livro foi Esquema da Pintura do Ceará (1949) e o primeiro cordel Estória de Retirantes (BARBOZA, 1977; BARBOSA…, [21–]; FRANCISCO …, [21–]).

Na contracapa do seu primeiro cordel estão registradas as seguintes palavras do editor:

Este é o primeiro de uma série de folhetos no estilo de cordel que Barboza Leite apresenta. É uma forma de expressão que o artista advoga para o vasto trabalho de quem vem dedicando sua vida através da sua pintura, de reportagens e livros que tem escrito e, aliás, do seu comportamento humano em face dos problemas de sua gente, ou seja, dos humildes, nem sempre bafejados com as graças do céu ou dos homens. Outrossim, estas edições têm a finalidade filantrópica. Vamos ajudar ao poeta, gente!(BARBOZA, [19–])

Publicou ainda Viagem pela Poesia onde reuniu a produção poética (1940 a 1990) de 103 poetas radicados em Duque de Caxias (FRANCISCO …, [21–]). Em sua verve poética, Barboza Leite biografou Estórias de Retirantes:

As vezes fico pensando
nos caminhos percorridos
por um homem sempre andando
desde que é nascido.
 
Do lugar em que nasceu
traz o homem o sentido,
também dos que conheceu
igualmente vem nutrido.
 
Sei que isso, igualmente,
a todo homem acontece ...
mas a uns é mais clemente
a sorte que se oferece.
 
Uns há que nasceram gozando
uma situação definida,
outros há que, mal chegando,
já encontram de partida
 
a família que emigra
- como se dá no sertão,
e a inclemência fustiga
a criança do seu chão.
 
Muitas vezes eu via
isto mesmo acontecer:
mal a criança nascia
já começava a correr.
[…]

E, assim, poetizou A Arte do Cordel:

Vamos puxar o cordel
enquanto se pode puxar
a abelha só faz mel
se tem pólen pra sugar
e é preciso esvoaçar
escolhendo cada flor
como quem busca um amor
assim também vamos indo
com as rimas construindo
de estrofes uma flor
 
Flor que o coração oferta
e que a mente cultiva
flor que o sol traz aberta
nas cores que a luz avisa
e tornam a visão cativa
o cordel singrou a história
como âncora da memória
mergulhando em muitos mares
inscrevendo-se nos ares
entre o amor e a glória
 
Reportando-se ao real
mas curtindo a ficção
sem encontrar um rival
pelas sendas do sertão
cultivando a tradição
das estórias espantosas
das lendas maravilhosas
o cordel é língua viva
que a mão do homem ativa
em busca da perfeição
[…]

Barboza Leite faleceu aos 76 anos, no dia 22 de dezembro de 1996, na cidade de Duque de Caxias (RJ) onde passou a residir desde os 27 anos de idade (1947), influenciado pelo amigo poeta Solano Trindade. Dois anos depois, foi aprovado no concurso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) onde foi servidor até aposentar-se no final dos anos 80. Em 1952, buscou a família no Ceará para residir no estado do Rio de Janeiro (BARBOSA…, [21–]; FRANCISCO …, [21–]).

FONTES CONSULTADAS

20 DE MARÇO: um dia de Cultura de verdade! [S.l :s.n.]. In: Lurdinha. 27 mar. 2011. Disponível em: <http://lurdinha.org/site/tag/dia-municipal-da-cultura/&gt;. Acesso em: 18 out. 2017.

BARBOSA LEITE, Francisco. [S.l. : s.n.]. In: Brasil Artes Enciclopédias. [21–]. Disponível em: <http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/nacional/barbosa_leite.htm&gt;. Acesso em: 18 out. 2017.

BARBOZA, Leite. A arte do cordel na poesia popular. Rio de Janeiro: Imprimec Gráfica Editora, 1977. 16 p. : 48 estrofes : décimas : 7 sílabas.

BARBOZA, Leite. História de retirantes. Rio de Janeiro: Imprimec Gráfica Editora, [19–]. 16 p. : 94 estrofes : quadras : 7 sílabas.

FRANCISCO Barboza Leite – Barboza Leite. [S.l. : s.n.] In: Catálogo das artes. [21–]. Disponível em: <https://www.catalogodasartes.com.br/app/artista/Francisco%20Barboza%20Leite%20-%20Barboza%20Leite/&gt;. Acesso em: 18 out. 2017.

LEITE, Francisco Barboza. Desfiando o novelo do cordel. Niterói: Museu de Artes e Tradições Populares, 1997.

Poeta Elói Teles de Moraes – Síntese biográfica

Poeta popular, folclorista, locutor, escritor, advogado (Faculdade de Direito do Crato, 1980), jornalista e servidor do Ministério da Agricultura, homem plural, Elói Teles de Morais nasceu em 19 de abril de 1936.

Em entrevista concedida a Gilmar de Carvalho nos estúdios da Rádio Educadora do Crato no estado do Ceará, em 2/12/1989, publicada no Diário do Nordeste (CARVALHO, 2016), Elói afirma que nasceu no Crato. Ele se contradiz durante a entrevista quando fala da infância, conta que os pais eram naturais de Santana do Cariri, trabalhadores da roça, com dez filhos. O pai, um autodidata, percebeu que deveria levar a família para o Crato, disse ele: “Até que chegou ao ponto que ele sentiu que podia trazer a gente pro Crato e trouxe”. Mendonça (2016), no Blog do Crato, assegura que Elói Teles nasceu no sítio Baraúnas, município de Várzea-Alegre, e foi registrado no Crato (CE). Na mesma postagem, conta que o cordelista foi preso (1964) acusado de ato subversivo durante o governo militar e na prisão versou:

Cadeia, estas tuas grades
Prendem o meu corpo revolto
Porém tu não sabes cadeia,
Que o meu ideal está solto!

O cordelista locutor consagrou-se apresentando, diariamente, das cinco às seis horas da manhã, por mais de 30 anos, o programa matuto Coisas do Meu Sertão (1965), divulgando música e poesia popular, tocando forró e declamando poesias de autores nordestinos, especialmente da região do Cariri. Elói Teles iniciou sua vida radiofônica em 1958 apresentando o programa na Rádio Araripe do Crato, onde, em 1964, era comentarista esportivo e foi diretor por 13 anos. Posteriormente, foi para a Rádio Educadora do Cariri (CARVALHO, 2016; MENDONÇA, 2016).

Em seu blog, Antônio Moraes (2011) afirma que o programa Coisas do Meu Sertão era encerrado com poesia do Zé Praxedi.

Doto intéôto dia
Basta mercê percisá
Um criado as suas orde
Na serra do jatobá
 
Prusarmoço tem galinha
Tem quaiada pra jantá
Agua cherosa no tanque
Pra vasmincê se banhá
 
Leite quente au pé da vaca
Quando o dia amanhecê
Café torrado no caco
De quando in vez pra mecê
 
Aguardente potiguá
Causo goste de bebê
Capim mimoso verdin
Pro seu cavalo cumê
 
Pra o doto fazê lanche
Mé de abêia cum farinha
Tem da fonte milagrosa
Agua fria da quartinha
 
Pra vasmincê se deitá
Uma rêde bem arvinha
Leve tambem sua muié
Proquê lá só tem a minha

Elói Teles conta que realizava, diariamente, diversificados programas radiofônicos, do jornalístico que ia ao ar ao meio-dia, outro vespertino de forró, o de mesa de debates de assuntos comunitários que ia ao ar aos sábados e, no mesmo dia, um noturno – A Festa da Casa Grande, que tocava música regional, e o matutino dominical de músicas antigas Baú das Velhas Recordações (CARVALHO, 2016).

Elói Teles deixou legado na promoção da cultura do Crato e região, tornando-se a partir de seu legado literocultural um folclorista de destaque, sendo grande animador de folguedos, incentivador de bandas cabaçais (banda de couro), reisados, maneiro-pau e literatura popular, especialmente o cordel (MENDONÇA, 2016).

Desse modo, ele sempre impulsionou a cultura como cordelista e promotor cultural, valorizando e divulgando diversas manifestações culturais. Presidiu a Fundação Casa do Folclore Cego Aderaldo, passando a ser a Fundação Mestre Elói. Dirigiu, também, a banda de música municipal. Fundou e foi o primeiro presidente da Academia de Cordelistas do Crato, ocupando a cadeira de nº 7 (CABRAL, 1992; MENDONÇA, 2016).

O cordelista realizou o sonho de publicar uma série de folhetos sobre a história do Crato. Reconhecer a história local significa resgatar e preservar a sua tradição, por isso ter afirmado: “O nosso homem do campo não conhece [a história], o cratense da periferia também não. Temos que contar a história na linguagem dele. A única saída seria o cordel, e procurei fazer, dentro das minhas limitações” (CARVALHO, 2016).

Além dos 6 volumes de A História do Crato em Versos, Elói escreveu uma série de cordéis sobre as lendas do Crato, dentre eles: A Lagoa Encantada e A Pedra da Batedeira (CARVALHO, 2016). O poeta foi pai de quatro filhos com a professora Elionai Grangeiro. Faleceu aos 64 anos na cidade do Crato, terra por ele versada em rima, cordel que compõe a coleção que homenageia os 250 anos da cidade (CABRAL, 1992).

A Confederação dos Cariris
 
Quero usar o dom do verso
Que Deus me deu com fartura
Pra no meu grande universo
Com minha verve segura
Contar uma bela estória
Coberta de muita glória
De gente muito feliz
Que viveu na nossa terra
Nestes nossos pés de serra
Nossos índios Cariris.
 
Como é bom falar dum povo
Que viveu bem natural
Tanto o velho como o novo
Tinham vida colossal
Os Cariris nestas matas
Nos rios e nas cascatas
A caçar e a pescar
Tinham nas tocas fartura
Sobrevivência segura
Sem nada os incomodar
 
Mas esse é o lado belo
É o lado colorido
A parte sem ter flagelo
Sem ninguém ser perseguido
Há porém dos Cariris
Que mostrar os seus perfis
De sofrimento e de dor
De lutas, guerras e mortes
Daqueles guerreiros fortes
Índio bravo, sofredor.
 
[…]

O jornalista Humberto Cabral (1992) biografou Elói Teles no cordel A Confederação dos Cariris, classificando-o como “patrimônio cultural da nossa região”.

FONTES CONSULTADAS

CABRAL, Humberto. Elói Teles. In: TELES, Elói. A confederação dos Cariris. Crato: Academia dos Cordelistas do Crato. Junho de 1992. 

CARVALHO, Gilmar de. O legado de Elói Teles. Diário do nordeste.  [S.l. : s.n.], 19 abr. 2016. Caderno 3. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-legado-de-eloi-teles-1.1533433&gt;. Acesso 29 mar. 2017.

MENDONÇA, Dihelson. Blog do Crato homenageia o radialista Elói Teles de Morais: 10 anos de falecimento. In: BLOG do Crato. [S.l. : s.n.]. 11 out. 2016. Disponível em: <http://blogdocrato.blogspot.com.br/2010_10_11_archive.html&gt;. Acesso em: 28 mar. 2017.

MORAIS, Antônio. Coisas do meu Sertão: seu Elói. In: BLOG do Antônio Morais. [S.l. : s. n.]. 6 ago. 2011. Disponível em: <http://blogdosanharol.blogspot.com.br/2011/08/coisas-do-meu-sertao-seu-eloi.html&gt;. Acesso em: 28 mar. 2017.

Poeta Francisco Nunes de Oliveira – Síntese biográfica

Francisco Nunes de Oliveira foi um repentista alagoano que galgou significativo reconhecimento literário. Costumava se autodenominar de Francisco Nunes Brasil, por considerar um nome poético para um repentista, mas a sua existência modesta o reduziu para Chico Nunes e, mais tarde, em autoelogio adotou como codinome Rouxinol de Palmeira (LAGO, 1975). Muito embora Lima (2016), ao citar Luiz B. Torres, afirma que Chico Nunes gostava de se apresentar aos desconhecidos adotando outros codinomes como: “Nabucodonosor Aciobá Brasileiro da Costa Ouricuri Bacamarte da Silva Arranca Toco, Rouxinol da Palmeira e exemplo pra cabra ruim”.

Francisco Nunes de Oliveira nasceu em Palmeira dos Índios no Estado de Alagoas em 04 de maio de 1904, na Rua de Cima, posteriormente denominada de Rua Costa Rego. Lima (2016) historia que Chico Nunes nasceu na Rua Pernambuco Novo ou Pernambuquinho e completa:

[…] Era uma Rua de mulherio, de mistura de randevus e cabarés, aonde a promiscuidade ia até as últimas consequências. Mas, apesar da imundice ali reinante, era a mais procurada pelos homens e a noite se transformava, no logradouro mais animado da pequena Palmeira dos Índios.

Filho de um mestre de obras e uma costureira, José Nunes da Costa e Francisca Nunes de Oliveira, falecidos, respectivamente em 1942 e 1947. Após a morte dos pais, Chico Nunes foi morar com o amigo barbeiro João Vieira. Posteriormente, recebeu uma casa do tio Gaspar, na Rua Pernambuco Novo, nº 35, onde residiu até morrer (LAGO, 1975).

Foi o quinto filho de uma prole de doze, dos quais apenas sete sobreviveram, faleceu aos 48 anos, no dia 21 de fevereiro de 1953, com nefrite crônica ou cirrose hepática. Por cinco anos e nove meses, Chico viveu com Maria Tercila, com quem não casou no civil ou religioso e chamava carinhosamente de Guriatã. Eles tinham se conhecido em 14 maio de 1947 (LAGO, 1975; LIMA, 2016).

Com vida difícil e frustrada, tornou-se mordaz e afirmava: “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele” (LAGO, 1975, p. 23). Seus versos transmitem a desilusão com a vida:

A vileza do destino
Espedaçou meu futuro,
O meu viver é obscuro
Desde o tempo de menino.
Hoje sou um peregrino,
Não sei o que é riqueza,
Bruxuleia a luz acesa,
Perdi a perseverança ...
E o retrato de minha infância
Está na minha pobreza.
 
Na terra dos marechais,
Sem ter quem me queira bem,
Ó morte, por que não vens
Tirar meus dias finais?
Vivo gemendo meus ais,
Só sei o que é aspereza,
Não apresento nobreza,
Sou igual a uma balança ...
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.
(LAGO, 1975, p. 24)

Em Chico Nunes das Alagoas, Lago (1975) realiza um “levantamento poético-existencial […] sobre o que fez e rimou um repentista despreocupado de tipografia ou sequer cadernos de rascunhos”.

O poeta não tinha interesse em escrever ou publicar os seus repentes, os quais muitas vezes causavam verdadeira admiração. Até certa ocasião, eu [José Nunes da Costa, o Cazuza, primo de Chico Nunes] o animei para que mandasse alguém copiar (o que fazia), a fim de publicar um pequeno folheto. Mas ele não levou a sério a minha idéia.

Chico Nunes era muito apegado a mim [Valdemar de Sousa Lima]. E quantas vezes lhe pedi que me trouxesse os seus versos copiados, pois desejava formar um caderno, como lembrança. Mas o amarelo, irônico e extrovertido como o diabo, não ligava para essa história de escrever. Queria era encher a barriga de cachaça e lorotar, soltando a coisa por aí. Quem quisesse que pegasse. (LAGO, 1975, p. 47)

Na obra, o autor busca apresentar Francisco Nunes de Oliveira por meio das lembranças de seu amigo Zé do Cavaquinho (José Rodrigues de Moura), proprietário do boteco Trovador Berrante, frequentado por Lago durante as filmagens de São Bernardo, em Viçosa (AL).  Ao biografar o Rouxinol de Palmeira, o autor esclarece:

A obra dessa gente não pode ser analisada como dos poetas que a posteridade reúne em Obras Completas e cita em Ontologias. Esses podem deter-se na ideia que ocorre, refugá-la ou aprofundar-lhe a essência. E elaborar o verso, trabalhar a frase, comparar a música das palavras para escolher a melhor, aquela que se encaixa no todo sem deixar espaço para outra. E reveem, expurgam, enxugam, refazem. Não há o tempo como um elemento implacável a exigir a conclusão do poema. O importante é que a obra saia perfeita.

O repentista, ao contrário, rima ao impacto do fato de momento, da frase que espicaça. Produz cantando ou falando, sem vagares para rever. Uma multidão espera o resultado da peleja. Em seu íntimo palpita o orgulho de uma condição que lhe deu superioridade ambiental, como diz Câmara Cascudo em Vaqueiros e cantadores. […] Vacilar será perder o que custou anos para ser alcançado: o respeito de toda uma cidade, zona ou sertão. […] (LAGO, 1975, p. 11-12)

O trovador palmeirense não deixou uma única linha publicada, mas é a ele atribuída a autoria da décima biográfica Velho Tamarineiro:

Fui visitar a morada
Onde nasci e me criei,
Não achei casa nem nada
Das coisas que lá deixei.
Só, lá no fim do terreiro,
Um velho tamarineiro
Que meus pais queriam bem.
Enquanto os donos viveram,
Viveu. Quando eles morreram
A árvore morreu também.
(LAGO, 1975, p. 13)

Aos 4 anos, Francisco Nunes de Oliveira apresentou desejo de frequentar a escola e o pai providenciou um bauzinho de lata que servia para levar objetos escolares como caderno e cartilha. Uma manhã, indo para escola, encontrou dois colegas mais velhos, Evangelista (Vanja) e Raul, e o contentamento por se sentir igual aos amigos levou a falar suas primeiras rimas:

Olha o banha e o baranha,
Olha o Vanja e o Aú
Eu também vou pra escola
Carregando meu baú.
(LAGO, 1975, p. 25)

Lago (1975) cita Bezerra e Silva, amigo de infância de Chico Nunes, que em seu livro Terra dos Xucurus, ratifica as informações de que muito pequeno o repentista glosava. Também avalia que o repentista não desejava estudar por ter frequentado a escola por um período de um ano, porém D. Luísa, irmã do poeta, explica que por ter uma alta miopia, consequência do sarampo, Chico deixou a escola por ter sido dispensado pela professora Amélia Bonfim, somado às dificuldades do ensino público da época e à impossibilidade de acesso ao ensino particular. Sem concluir o curso primário, falava correto e costumava ler dicionários e usando expressões pouco comuns embaraçava os adversários de desafio.

De acordo com as informações da sobrinha Beby Nunes, ele foi um homem de muitos amores, como Honorina e Heronita, mas que não se concretizaram por ser boêmio e não representar um bom partido. Lago (1975) também cita Anália e afirma que dentre os guardados de Maria Tercila, derradeira companheira de Chico Nunes, foi encontrada a glosa Saudades de Honorina, com a seguinte nota: “Improvisos do poeta Francisco Nunes Brasil: Dedicados à virgem dos meus sonhos, Honorina, em 18 de março de 1938 – Palmeira dos Índios” (LAGO, 1975, p. 37).

Faz hoje um mês e dois dias
Que você se foi embora,
Meu coração ainda chora
Cheio de melancolias.
Na maior das agonias
Eu fiquei na quarta-feira,
Solucei a tarde inteira,
Dando suspiros e ais …
De triste não canta mais
O Rouxinol da Palmeira.
 
Você diz que não há verdade
No coração de um cantor,
Mas se não existisse amor
Não existia amizade,
Digo com sinceridade
A ti, morena faceira:
A saudade é a companheira
Da esperança que passeia …
Não canta mais nem gorjeia
O Rouxinol da Palmeira.
[…]
(LAGO, 1975, p. 37-38)

Aventura amorosa de um jovem de 18 anos com Eronildes, garota de programa, obrigou-o a tomar uma injeção de vitamina B1 para doença sexualmente transmissível, aplicada no braço esquerdo pelo farmacêutico Valfrido Góis que era padrinho de seu irmão. Como consequência da aplicação da injeção, “o braço deu de secar, secar, mirrando completamente” (LAGO, 1975, p. 42). Chico veio a dar um tiro no próprio pulso da mão deformada, em 1924, e assim poetizou o momento:

Não há dor que eu não aguente,
Que a dor em mim já fez calo,
Mas a desgraça que falo
É desgraça diferente.
Perdi a mão fazendo repente
Na pensão do Zé Narciso.
Isso me deu prejuízo
E me deixou arrasado.
Até o governo do Estado
Mostrou preocupação
Ao ver perder sua mão
O Chico Nunes falado.
(LAGO, 1975, p. 42)

Lago (1975) aponta o descaso dos pesquisadores de poesia popular como uma das causas do desgosto e revolta de Chico Nunes, suposição confirmada em correspondências trocadas com os folcloristas José Aloísio Brandão Vilela, Theotônio Vilela Brandão e José Veríssimo de Melo. Aponta ainda que apenas Neri Camelo, em suas obras Alma do Nordeste e Através do Sertão, “o citou e situou […] No primeiro desses livros, o referido autor não faz por menos em sua admiração: Palmeira dos Índios é o berço de um dos maiores improvisadores do nordeste – Chico Nunes”, além de enviar um exemplar com foto dedicada ao glosador (LAGO, 1975, p. 45).

O homem incrédulo movia o poeta com suas glosas, como a Terra, cinza e nada mais, remetida a Aloísio Vilela em 1937:

O ouro com seu brasão,
Esse herói entre os humanos,
Vestiu dos mais finos panos
O grande rei Salomão,
Mas o grande rei de então,
Que brilhou entre os cristais,
Numa das horas fatais
Foi levado à terra fria.
Tornou-se no mesmo dia
Terra, cinza e nada mais.
 
Os grandes imperadores,
Os presidentes e papas,
Dizem os livros e mapas
Que lamentavam horrores …
Poetas de altos valores,
Por decretos divinais
Ou por sentenças legais
Deixaram de versejar.
Todos foram se tornar
Terra, cinza e nada mais.
 
Bem vimos Pedro Segundo,
Imperador do Brasil,
Ganhou loas mais de mil
Neste pedaço de mundo.
Mas, por mistério profundo,
Sentiu dores sem iguais,
Seguiu as leis dos mortais,
Deixando as glórias do trono.
Tornou-se, depois do sono,
Terra, cinza e nada mais.
 
O marechal Floriano
Peixoto,homem ilustrado,
Foi um brasileiro honrado
Do Estado Alagoano.
Como não foi desumano
Teve épocas colossais,
Foi o rei dos marechais
De ferro, disposto e forte.
Mas virou, depois da morte,
Terra, cinza e nada mais.
 
O grande Dr. Rui Barbosa,
Muito sábio e competente,
No mundo viveu decente,
Sua estrela foi luminosa.
Sua voz era poderosa,
Abalando até os jornais.
Preparava os editais
Com acerto e muita ciência …
Tornou-se após a existência
Terra, cinza e nada mais.
 
Estou muito arrependido
Com meu triste nascimento,
Neste mundo de tormento
Antes não fosse nascido.
De que serve ter vivido
Como meus formosos sinais
E ter na lira os ideais?
Vou deixar de ser poeta,
Pois terei de ser, na certa,
Terra, cinza e nada mais.
 
Estou triste e quase morto,
Passo a vida a meditar …
Me vejo neste lugar
Sem prazer e sem conforto.
De reumatismo ando torto,
Com dores descomunais.
Dando suspiros e ais
De tudo perdi a fé …
Breve Chico Nunes é
Terra, cinza e nada mais.
(LAGO, 1975, p. 56-58)

O repentista ganhou um carimbo, presente de José Branco, para identificar suas glosas (LAGO, 1975, p. 29).

FONTES CONSULTADAS

LIMA, Marcos. Chico Nunes das Alagoas, o Poeta esquecido. [S.l. :s.n]. In: Na sombra do juazeiro. 13 nov. 2016. Disponível em: <http://nasombradojuazeiro.com.br/2016/11/13/chico-nunes-das-alagoas-o-poeta-esquecido/&gt;. Acesso em: 13 set. 2017.

COMO MÁRIO LAGO descobriu Chico Nunes das Alagoas.[S.l. : s.n.]. In: História de Alagoas. 27 maio 2015. Disponível em: <http://www.historiadealagoas.com.br/mario-lago-descobre-chico-nunes-das-alagoas.html&gt;. Acesso em: 13 set. 2017.