Poeta popular, folclorista, locutor, escritor, advogado (Faculdade de Direito do Crato, 1980), jornalista e servidor do Ministério da Agricultura, homem plural, Elói Teles de Morais nasceu em 19 de abril de 1936.
Em entrevista concedida a Gilmar de Carvalho nos estúdios da Rádio Educadora do Crato no estado do Ceará, em 2/12/1989, publicada no Diário do Nordeste (CARVALHO, 2016), Elói afirma que nasceu no Crato. Ele se contradiz durante a entrevista quando fala da infância, conta que os pais eram naturais de Santana do Cariri, trabalhadores da roça, com dez filhos. O pai, um autodidata, percebeu que deveria levar a família para o Crato, disse ele: “Até que chegou ao ponto que ele sentiu que podia trazer a gente pro Crato e trouxe”. Mendonça (2016), no Blog do Crato, assegura que Elói Teles nasceu no sítio Baraúnas, município de Várzea-Alegre, e foi registrado no Crato (CE). Na mesma postagem, conta que o cordelista foi preso (1964) acusado de ato subversivo durante o governo militar e na prisão versou:
Cadeia, estas tuas grades Prendem o meu corpo revolto Porém tu não sabes cadeia, Que o meu ideal está solto!
O cordelista locutor consagrou-se apresentando, diariamente, das cinco às seis horas da manhã, por mais de 30 anos, o programa matuto Coisas do Meu Sertão (1965), divulgando música e poesia popular, tocando forró e declamando poesias de autores nordestinos, especialmente da região do Cariri. Elói Teles iniciou sua vida radiofônica em 1958 apresentando o programa na Rádio Araripe do Crato, onde, em 1964, era comentarista esportivo e foi diretor por 13 anos. Posteriormente, foi para a Rádio Educadora do Cariri (CARVALHO, 2016; MENDONÇA, 2016).
Em seu blog, Antônio Moraes (2011) afirma que o programa Coisas do Meu Sertão era encerrado com poesia do Zé Praxedi.
Doto intéôto dia Basta mercê percisá Um criado as suas orde Na serra do jatobá Prusarmoço tem galinha Tem quaiada pra jantá Agua cherosa no tanque Pra vasmincê se banhá Leite quente au pé da vaca Quando o dia amanhecê Café torrado no caco De quando in vez pra mecê Aguardente potiguá Causo goste de bebê Capim mimoso verdin Pro seu cavalo cumê Pra o doto fazê lanche Mé de abêia cum farinha Tem da fonte milagrosa Agua fria da quartinha Pra vasmincê se deitá Uma rêde bem arvinha Leve tambem sua muié Proquê lá só tem a minha
Elói Teles conta que realizava, diariamente, diversificados programas radiofônicos, do jornalístico que ia ao ar ao meio-dia, outro vespertino de forró, o de mesa de debates de assuntos comunitários que ia ao ar aos sábados e, no mesmo dia, um noturno – A Festa da Casa Grande, que tocava música regional, e o matutino dominical de músicas antigas Baú das Velhas Recordações (CARVALHO, 2016).
Elói Teles deixou legado na promoção da cultura do Crato e região, tornando-se a partir de seu legado literocultural um folclorista de destaque, sendo grande animador de folguedos, incentivador de bandas cabaçais (banda de couro), reisados, maneiro-pau e literatura popular, especialmente o cordel (MENDONÇA, 2016).
Desse modo, ele sempre impulsionou a cultura como cordelista e promotor cultural, valorizando e divulgando diversas manifestações culturais. Presidiu a Fundação Casa do Folclore Cego Aderaldo, passando a ser a Fundação Mestre Elói. Dirigiu, também, a banda de música municipal. Fundou e foi o primeiro presidente da Academia de Cordelistas do Crato, ocupando a cadeira de nº 7 (CABRAL, 1992; MENDONÇA, 2016).
O cordelista realizou o sonho de publicar uma série de folhetos sobre a história do Crato. Reconhecer a história local significa resgatar e preservar a sua tradição, por isso ter afirmado: “O nosso homem do campo não conhece [a história], o cratense da periferia também não. Temos que contar a história na linguagem dele. A única saída seria o cordel, e procurei fazer, dentro das minhas limitações” (CARVALHO, 2016).
Além dos 6 volumes de A História do Crato em Versos, Elói escreveu uma série de cordéis sobre as lendas do Crato, dentre eles: A Lagoa Encantada e A Pedra da Batedeira (CARVALHO, 2016). O poeta foi pai de quatro filhos com a professora Elionai Grangeiro. Faleceu aos 64 anos na cidade do Crato, terra por ele versada em rima, cordel que compõe a coleção que homenageia os 250 anos da cidade (CABRAL, 1992).
A Confederação dos Cariris Quero usar o dom do verso Que Deus me deu com fartura Pra no meu grande universo Com minha verve segura Contar uma bela estória Coberta de muita glória De gente muito feliz Que viveu na nossa terra Nestes nossos pés de serra Nossos índios Cariris. Como é bom falar dum povo Que viveu bem natural Tanto o velho como o novo Tinham vida colossal Os Cariris nestas matas Nos rios e nas cascatas A caçar e a pescar Tinham nas tocas fartura Sobrevivência segura Sem nada os incomodar Mas esse é o lado belo É o lado colorido A parte sem ter flagelo Sem ninguém ser perseguido Há porém dos Cariris Que mostrar os seus perfis De sofrimento e de dor De lutas, guerras e mortes Daqueles guerreiros fortes Índio bravo, sofredor. […]
O jornalista Humberto Cabral (1992) biografou Elói Teles no cordel A Confederação dos Cariris, classificando-o como “patrimônio cultural da nossa região”.
FONTES CONSULTADAS
CABRAL, Humberto. Elói Teles. In: TELES, Elói. A confederação dos Cariris. Crato: Academia dos Cordelistas do Crato. Junho de 1992.
CARVALHO, Gilmar de. O legado de Elói Teles. Diário do nordeste. [S.l. : s.n.], 19 abr. 2016. Caderno 3. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-legado-de-eloi-teles-1.1533433>. Acesso 29 mar. 2017.
MENDONÇA, Dihelson. Blog do Crato homenageia o radialista Elói Teles de Morais: 10 anos de falecimento. In: BLOG do Crato. [S.l. : s.n.]. 11 out. 2016. Disponível em: <http://blogdocrato.blogspot.com.br/2010_10_11_archive.html>. Acesso em: 28 mar. 2017.
MORAIS, Antônio. Coisas do meu Sertão: seu Elói. In: BLOG do Antônio Morais. [S.l. : s. n.]. 6 ago. 2011. Disponível em: <http://blogdosanharol.blogspot.com.br/2011/08/coisas-do-meu-sertao-seu-eloi.html>. Acesso em: 28 mar. 2017.