José Francisco Borges (20/12/1935)
Mais conhecido como J. Borges. Ele é um dos mestres do cordel, um dos artistas folclóricos mais celebrados da América Latina e o xilogravurista brasileiro mais reconhecido no mundo. Nasceu em 20 de dezembro de 1935 em Bezerros, cidade do Agreste de Pernambuco. Na infância ainda, trabalhava na lavoura e fazia cestos e balaios para vender na feira. Na adolescência, atuou no jogo do bicho, fabricou lajes e tijolos e confeccionou brinquedos, além de vender folhetos nas feiras do interior.
Autodidata, o gosto pela poesia fez encontrar nos folhetos de cordel um substituto para os livros escolares. Em 1964, começou a escrever folhetos de cordel, quando produziu O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, xilogravado por Mestre Dila, que vendeu mais de cinco mil exemplares em dois meses. Animado com o resultado, escreveu o segundo chamado O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm, que o conduziu pela primeira vez à xilogravura. Como não tinha dinheiro para pagar um ilustrador, J. Borges resolveu fazer ele mesmo, começou a entalhar na madeira a fachada da igreja de Bezerros, que usou no seu segundo folheto de cordel. Desde então, começou a fazer matrizes por encomenda e também para ilustrar os mais de 200 cordéis que lançou ao longo da vida. Hoje essas xilogravuras são impressas em grande quantidade, em diversos tamanhos, e vendidas a intelectuais, artistas e colecionadores de arte.
Seu reconhecimento o conduz a ministrar cursos e oficinas no Brasil e no exterior. Suas temáticas abordam o cotidiano popular, histórias do cangaço, da religiosidade, crimes e corrupções. Dotado de uma postura eclética, ele discorre sobre o seu tempo quanto viaja no universo do imaginário popular e coletivo, e folguedos populares que revelam o universo cultural e religioso do povo nordestino. Dada à sua importância e qualidade artística, J. Borges foi considerado, desde 2006, Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, título que lhe foi outorgado pelo Governo do Estado.
A primeira de suas obras a alcançar sucesso e visibilidade foi a Chegada da Prostituta no Céu, do qual extraímos as duas primeiras páginas:
Do rosto da poesia
eu tirei o santo véu
e pedi licença a ela
e escrever a chegada
para tirar o chapéu
da prostituta no céu
Sabemos que a prostituta
é também um ser humano
que por uma iludição
fraqueza ou desengano
o seu viver é volúvel
sempre abraça a o engano
Vive metida em orgia
e cheia de vaidade
é raro uma que trabalha
e usa honestidade
por isso fica odiada
perante a sociedade
Todas as religiões
pra ela escala uma pena
se o homem lhe abraça
a mulher casada condena
mas sabemos que Jesus
perdoou a Madalena
Falar sobre prostituta
é um caso muito sério
que é um ser sofredor
sua vida é de mistério
e para sobreviver
sempre usa o adultério
Perante a sociedade
ela é marginalizada
existe umas mais calmas
e outras mais depravadas
e quem tem mais ódio delas
é a própria mulher casada
Ela vive aqui na terra
enfrentando um sacrifício
se vende para os homens
muitas se entrega a o vício
enquanto nova se estraga
e faz da miséria ofício
FONTES CONSULTADAS
ALMANAQUE Brasil. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <www.almanaquebrasil.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2014.
ARTE Popular do Brasil. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot.com.br/2011/01/j-borges.html>. Acesso em: 27 nov. 2014.
BORGES, J. Memórias e contos de J. Borges. [S.l]: Hedra, 2007.
MACHADO, Regina Coeli Vieira. J. Borges. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php? option=com_content&view=article&id=394%3Aj-borges&catid=45%3Aletra-j&Itemid=1>. Acesso em: 10 nov. 2014.
O NORDESTE. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=J.+Borges>. Acesso em: 22 nov. 2014.
PERFIS Biográficos. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/janela_perfis.html>. Acesso em: 20 nov. 2014.
WIKIPEDIA. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://pt. wikipedia.org/wiki/J._Borges>. Acesso em: 21 nov. 2014.
LITERATURA de cordel acervo Fundação Joaquim Nabuco. [S.l.: s.n.], 2008. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/ images/meca/documentacao/CordelAcervoFundaj2008.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2014.
Vejo a história de J.Borges, como o próprio e grande historiador Ariano Suassuna…Homem simples e humilde.Sempre dava tudo de sí, para satisfazer ao próximo. Portanto, trazia n’alma a sua verdadeira Xilogravura. E dava valor ao ser humano. Para ambos tiro o meu chapéu.