Marcos Aurélio Gomes de Carvalho
Natural da cidade de Bodocó, alto sertão pernambucano, o poeta Marco Di Aurélio inclui em seu currículo vasta experiência profissional que o tornara poeta de um lirismo límpido sensível às causas sociais e ao próximo, razão que provavelmente conduz a sua entrega total as raízes e a cultura popular nordestina. Sua verve poética e artística o conduz pelas artes plásticas, pelo cinema, pela fotografia pelos palcos, pelos contos e, sobretudo pela poética, muito embora se declara em seu Cordel intitulado AUTODIDATA, como transcrito:
Sou apenas um poeta
de letras ajuntador
não completei a escola
me ocupei trabalhador
mas não sou ignorante
de leitura interessante
nisso sim me fiz doutor.
Um doutor de entender
da vida sua grandeza
do mundo e seus confins
do belo a realeza
da rosa em seu carmim
da pureza de um jardim
ultrapassando a beleza.
Um doutor de entender
que a vida pura e bela
é um céu azul e branco
é um sítio sem cancela
uma canção entoada
uma vida derramada
e a gente em cima dela
Um doutor de entender
que tudo que vai tem volta
de um bicho que se prende
de outro que assim se solta
no ciclo da inspiração
em sua respiração
que no mundo não se esgota.
De entender que o destino
parece querendo ser
uma coisa já traçada
aquilo que tem que haver
pois não existe uma praça
o seu ar a sua graça
se não houver um querer.
Portanto sei entender
que a vida que aqui se tem
o tudo que aqui se faz
se projeta muito além
não vivemos numa estrada
como rota já traçada
a vida não é um trem
É preciso se buscar
no meio do existir
em tudo que se pensar
no chorar ou no sorrir
que a vida é qual o vento
que povoa o firmamento
eternamente a fluir.
Toda cosmologia
tenta mas não explica
o teor de tudo ser
enfeita e até complica
a razão do seu querer
procurando conhecer
o tudo que multiplica.
Como toda vida é
um conjunto de ilusão
construída ela está
pelo pó em suspensão
e a cada sopro vai
se levanta e depois cai
em nova combinação.
Em sua poética Marco Di Aurélio marca sua produção pelo tradicionalismo poético que caracteriza o cordel desde o conteúdo ao aspecto físico e xilográfico. Por outro lado, isto não o caracteriza conservador em seus posicionamentos, encarna um regionalismo nativista, sem radicalismos nem barreiras conservadoras. Escritor e cordelista, autor de vários folhetos de Literatura de Cordel, feitor de poemas e militante da Academia Paraibana de Poesias. Entre outras publicações, é autor do livro de contos autobiográficos sobre as coisas do sertão Com-Caso.
Sua obra transita do cordel ao soneto, do aboio à poesia moderna, das incelências aos musicais e documentário, tornando-se o autor da primeira edição de literatura de cordel no sistema Braille no Brasil, atividade que iniciou por meio do patrocínio da Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de João Pessoa, onde atualmente é radicado.
SABER DE NÓS
Saber de mim
é saber pouco
pois é de mim
saber-se o outro
quando bem sei
que lendo a lei
sou só um louco.
Saber de ti
sei que existo
sabendo nós
sabemos misto
querendo a dois
sabemos pois
desse imprevisto.
Não sabem eles
nossa loucura
eu que escrevo
essa estrutura
e tu não vês
quando me lês
não temos cura.
FONTES CONSULTADAS
BELIZÁRIO NETO, Manoel Messias. Cordelista pernambucano radicado na Paraíba, Marco Di Aurélio. In: CORDEL Paraíba: espaço destinado à publicação de poemas e informações diversas relacionadas com a literatura de cordel. Disponível em: <http://cordelparaiba.blogspot.com.br/2010/ 05/cordelista-pernambucano-radicado-na.html>. Acesso em: 10 nov. 2014.
CARVALHO, Marcos Aurélio Gomes de, (Marco di Aurélio). Arubu. [S.l.]: [s.n.], 2001.
MARCO DI Aurélio. Jornal da Besta Fubana. Disponível em: <http://www.luizberto.com/coluna/lapa-de-quengo-marco-di-aurelio>. Acesso em: 10 out. 2014.
VIEIRA, Fátima. Marco Di Aurélio. Disponível em: <http://www.fatima-vieira.com/marco_25.html>. Acesso em: 10 out. 2014.