Abdias Campos
Natural do município de Amparo – Paraíba, localizado na microrregião do Cariri Ocidental. Abdias Campos inicia sua apreciação pela poética cordelista a partir de sua convivência com a feira e o mercado público da cidade interiorana como confessado por ele no folheto a História do Forró, editado pela Campos de Versos, Folheteria Pernambucana, situada na cidade do Recife – Pernambuco:
[…] a poética violeira, o forró lá do mercado,
que tão bem executado lhe parecia comum.
Depois viu o zum zum zum do tocador da cidade
com muita dificuldade para fazer aquilo lá […].
Embora paraibano, foi em Pernambuco que Abdias Campos expandiu as fronteiras de seu talento e formação. Graduou-se em Administração de Empresas pela Universidade de Pernambuco, formação que contribuiu para o seu lado empreendedor. Traz em seu fazer poético a educação, ministrando oficinas, proferindo palestras e produzindo folhetos educativos com temas transversais, a exemplo dos cordéis: “Aquecimento global. É frescura ou a coisa esquentou mesmo?”, “Água”, “Poluição sonora”, “Lixo. Onde botar?”. Nos versos, o poeta apresenta uma relação direta do homem com a natureza e o meio ambiente. Sua produção, em linguagem coloquial, conduz os homens à reflexão, bem como trata de temas que versam questões da atualidade; outra característica de sua produção, a exemplo do folheto “Racismo no futebol”, como demonstra em seus versos:
RACISMO NO FUTEBOL
Neste folheto de versos
Minha homenagem singela
Aos jogadores negros
Que sofrem com a mazela
Do racismo inoportuno
De decadente tabela
Vamos fechar a janela
Na cara dessa vergonha
Combater com veemência
A atitude bisonha
Do racismo que apregoa
A jogada mais tristonha
Em todo canto do mundo
Tem-se ouvido um grito só
Do gramado à arquibancada
O campo de futebol
Virou palco de racismo
Que chegamos a ter dó
Dó de saber qu’inda há
Dentro dos seres humanos
Esses sentimentos podres
Que provocam desenganos
Quando nos julgamos mais
Mais nos tornamos insanos
[…]
A vida não pede cor
Para aquele ou para aquela
A quem pintou nesse quadro
A mais bonita aquarela
Trazendo a arte da bola
Por entre as traves da tela
Poeta, cordelista, violeiro, compositor, ator, declamador com uma carreira profícua, Abdias Campos alia tradição e contemporaneidade fazendo seus versos e produzindo seus textos com temas que relacionam tradição e atualidade. Sem descurar as origens, como ele mesmo ressalta no folheto “A história da literatura de cordel”, o poeta explica a função desse gênero textual:
Na alfabetização
Da zona canavieira
O cordel era a cartilha
Que se comprava na feira
Educando o homem rude
Para a leitura primeira
Apesar de trazer em sua poética a tradição característica da composição poética dos versos que emanam das estratégias de textualização escrita cujas raízes originam-se nos aspectos orais das cantorias, o mundo contemporâneo atrai Abdias Campos na junção. Nesse sentido, adota as tecnologias como meio de divulgar sua produção mantendo na Internet sua própria Livraria Virtual intitulada Abdias Campos nos “Campos de Versos: educando com Arte”, o que reitera o lado empreendedor do artista, bem como a possibilidade de dar a conhecer sua poética e, ao mesmo tempo, dela sobreviver. Muito embora o poeta atue em outras frentes simultaneamente com gravação de CDs, escreve artigos, ministra palestras e oficinas, trabalhou como ator na minissérie “A Pedra do Reino”, obra da autoria do também paraibano Ariano Suassuna, levada ao ar pela Rede Globo no ano de 2007. No mesmo ano, ele narrou, em cordel, o filme de animação “Até o Sol Raiá”, dos diretores Fernando Jorge e Leandro Amorim.
Criativo, eclético, empreendedor são adjetivações que podem ser empregadas ao poeta cordelista Abdias Campos que também produz uma literatura educativa de cunho infantil, assim como em parcerias com outros autores, inclusive no campo da peleja característica que se tem pelo viés da oralidadade, a exemplo da peleja em que verseja os poetas Abdias Campos (AC) e Luis Homero (LH), na obra “Peleja de Cantadores” em que cada um, em desafio ao outro, busca revelar a relação mar versus sertão:
PELEJA DE CANTADORES
AC-A caatinga ressequida
Sob os lampejos do sol
Envolta nesse lençol
Parece está esquecida
Mas dali sai tanta vida
Que causa admiração
Por tal multiplicação
E tanta variedade
Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão
LH-O mar vive enlouquecido
Pra conhecer essa terra
Sentir o cheiro da serra
Quando a tarde tem chovido
Vê o muçambê florido
Na rachadura do chão
A abelha no pendão
Mostrando a simplicidade
Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão
AC-Os predadores da sorte
Repórteres da decadência
Mostram um sertão sem clemência
Fadado a viver da morte
Nunca subiram num corte
Da serra da Conceição
Pra pegar preá com a mão
E constatar a verdade
Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão
LH-Ver a casaca de couro
Duetando à tardezinha
E um bem-te-vi que adivinha
Dando flechada em besouro
Venha escutar o estouro
Da pedreira do trovão
E a jia no cacimbão
Cantarolando a saudade
Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão
Adquira o cordel e leia toda a peleja
Em sua vasta produção literária, o poeta não deixa a tradição e a alia às tecnologias oportunizando ainda, em sua forma peculiar de ser, abranger o público em geral desde o infantil ao público adulto, contribuindo ainda para a formação de multiplicadores sobre o conhecimento da arte poética do fazer popular, tanto que produz o cordel, vendo-o no formato tradicional e o disponibiliza também para compra on-line, além da produção em áudio, a exemplo dos CDs e kits infantis.
FONTES CONSULTADAS
ACIOLI, A. S. Literatura popular como ferramenta para a educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 5, p. 76-86, 2010. Disponível em: <http://www.sbecotur.org.br/revbea/index.php/revbea/article/viewFile/1693/832>. Acesso em: 20 set. 2014.
AMORIM, M. A. No visgo do improviso ou a peleja virtual entre cibercultura e tradição: comunicação e mídia digital nas poéticas de oralidade. 2007. 118 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.
CABRAL, G. G. As representações de poder no corpus de folhetos de 1945 a 1954: leituras da Era Vargas. 2008. 171 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.
CAMPOS, A. A história da literatura de cordel. 5. ed. Recife: Folheteria Campos de Versos, [20?].
LIVRARIA Virtual: educando com arte. Abdias nos Campos de Versos. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: <http://www.abdiascampos.com.br/v2/>. Acesso em: 20 nov. 2014.
NOGUEIRA JR, A. Projeto releituras. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: <http://www.releituras.com/abdias_menu.asp>. Acesso em: 29 nov. 2014.
PORTAL Pernambuco. Nação Cultural. Abdias Campos. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: <http://www.nacaocultural.com.br/ abdiascampos/>. Acesso em: 20 nov. 2014.
______. ______. Literatura de cordel cantada e declamada. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: < http://penc.achanoticias.com.br/literatura-de-cordel-cantada-e-declamada>. Acesso em: 20 nov. 2014. (áudio).
SANTANA, D. P. Poesia popular nordestina: uma abordagem para o tratamento da relação fala-escrita. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: <http://www.cchla.ufrn.br/visiget/ pgs/pt/anais/Artigos/Doralice%20Pereira%20de%20Santana%20%28U%C3%89VORA%29.pdf>. Acesso em: 20 set. 2014.
SILVA, N.; SANTOS, M. A. C. Literatura marginal e os livros didáticos da educação de jovens e adultos de São Paulo. [S.l.: s.n, 20?]. Disponível em: <http://www.unicap.br/jubra/wp-content/uploads/2012/10/ TRABALHO-58.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2014.
STAFABAND. Disponível em: <http://www.stafaband.info /download/mp3/ lagu_cantor_abdias_causas_impossiveis/>. Acesso em: 20 nov. 2014.
AMO O TRABALHO DO POETA ABDIAS CAMPOS, É DE MUITA IMPORTÂNCIA PARA A NOSSA EDUCAÇÃO! PARABÉNS!!
Abdias campos, tenho em minha casa uma fã mirim, fez um trabalho na feira de ciências do colégio e nunca mais ti esqueceu. O nome dela é Maria Guilhermina, tem 4 anos e deseja muito lhe conhecer, quando vier a Natal. Me avise para eu leva-se ao seu encontro. Grata vovó Cristina.