Francisco de Souza Campos (26/09/1926 -)
Natural da cidade de Timbaúba, localizada na Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco, Francisco de Souza Campos, poeta popular, nasceu em 26 de setembro de 1926. Integrante de uma família cuja verve poética parece estar na genética. Irmão dos poetas Manoel de Souza Campos e José de Souza Campos, Francisco traz em seus escritos temáticas tradicionais, em sua maioria em folhetos de 8 páginas, tendo sido considerado como uma de suas mais significativas obras o Cordel lançado pela Editora Luzeiro intitulado “Enfrentando a Morte”. Como exemplo de seus escritos, registramos As Bravuras de Maria Jararaca, extraído da Revista Jangada do Brasil:
Pra quem gosta de história
de cacete, foice ou faca
surgiu agora as bravuras
de Maria Jararaca
leiam e depois me digam
se mulher é parte fraca
Para provar que mulher
não é como o povo pensa
leia leitor esta história
embora não se convença
não quero dizer com isto
que o leitor vá dar crença
Mulher faz cousas na vida
que o homem morre e não faz
briga, mata dá pancada
conquista até satanás
e faz cousa que eu acho
que ela é forte demais
Mas, vamos deixar pra lá
que seja forte ou fraca
que seja calma ou não
que goste ou não de fuzarca
vamos contar a história
de Maria Jararaca
Habitava antigamente
nos sertões de Mato Grosso
um casal numa fazenda
um verdadeiro colosso
tinha dois filhos somente
sendo uma moça e um moço
A moça era Maria
de gênio e instinto forte
perversa e muito briguenta
punha em jogo sua sorte
brincava com a desgraça
e desafiava a morte
Quando ainda meninota
frequentava a escola
menino que lhe insultasse
ia ligeiro pra sola
não comia desaforo
nem engolia parola
Os seus pais por muito tempo
davam conselhos demais
porém ela não seguia
as instruções de seus pais
e assim enveredou-se
no caminho do satanás
Seus pais vendo que não davam
deixou-a a cargo do mundo
seguindo a vida ilegal
braba assanhada e afoita
um verdadeiro animal
Maria em casa gritava
eu não guardo desaforo
comigo é na cacetada
brincou comigo é no couro
até minha professora
tem que me guardar decoro
Muito perto da escola
havia uma barraca
onde uns desocupados
ali tomavam “truaca”
insultando todo mundo
fazendo a maior fuzarca
Um certo dia ela vinha
sozinha pelo caminho
sem se importar com a vida
nem pensava em desalinho
quando naquele momento
se deu tanto burburinho
Lá da barraca que eu
falei inda agora a pouco
surgiu um preto vadio
e como quem está louco
chegou perto de Maria
e deu um tremendo soco
Aí os outros caíram
numa grande gargalhada
porque Maria estava
caída ensanguentada
fazendo cara de choro
também muito encabulada
Maria que só andava
com uma faca afiada
guardada dentro da bolsa
ficou com ela empunhada
se fez na faca e entrou
como uma alucinada
Caíram na gargalhada
da calçada da barraca
dizendo uns aos outros
olhem uma Jararaca
que quer ganhar uma pisa
com um cipó de piaca
Neste momento avançaram
para bater em Maria
ela se fez no trinxete
que na bolsa conduzia
e danou-se a cortar gente
só se ouvia a gritaria
Cortou cinco e correu um
dos que estavam na barraca
Maria dava pesada
mordia e danava a faca
desta vez ficou conhecida
por Maria Jararaca
O nome de Jararaca
se espalhou neste dia
e assim numa semana
todo mundo já sabia
que a moça jararaca
com certeza era Maria
Jararaca foi crescendo
até que moça ficou
não enjeitava parada
e assim se acostumou
não quis viver com os pais
de sua casa arribou
Sua fama se estendeu
nos sertões de Mato Grosso
não corria de barulho
punha o povo em alvoroço
gostava de comprar briga
não enjeitava destroço
Agora vamos falar
num vigia viciado
atacar mocinhas pobres
cumprindo o seu triste fado
de cabra afoito e vadio
um verdadeiro tarado
O vigia era um sujeito
metido a brabo e ruim
dizia abertamente
eu gosto de ser assim
gozo carinho de moças
todas se passam pra mim
Certa vez este vigia
viu Maria numa feira
disse agora estou com tudo
oh! menina de primeira
aquela ali vai comigo
pra dentro da capoeira
Não sabia que Maria
tinha aprendido dar murro
mãosada em cara de macho
que o cara dava urro
mordia que só cachorro
dava coice que só burro
Maria que conhecia
do vigia sua fama
dizia consigo eu hoje
irei forrar tua cama
é hoje que vou encher
a boca dele de lama
O cabra naquele instante
deu com a vista em Maria
ela naquele momento
fez um sinal pro vigia
dando impressão para ele
que ela lhe aceitaria
E assim saiu na frente
e o vigia atrasado
saíram logo da feira
para um certo reservado
o vigia todo fofo
de gogó levantado
O vigia conhecendo
que ali não ia gente
deu um pulo adiantou-se
e tomou logo a frente
sem esperar que iria
enfrentar uma serpente
E disse para Maria
pode tirar a casaca
porém Maria puxou
de sua cinta uma faca
e disse para o vigia
se quer morrer emburaca
O vigia que bancava
a fama de valentão
conseguiu tomar a faca
caíram ambos agarrados
enrolando pelo chão
A luta era temerosa
nem um dos dois se rendia
Jararaca deu um golpe
na garganta do vigia
o bruto naquela hora
reconheceu que perdia
Maria naquele instante
retomou a sua faca
soltou o vigia e disse
vem agora e me ataca
se não conheces a fama
de Maria Jararaca
O vigia arrependido
dizia assim: me perdoe
tremia, urinou na calça
obrou em pé feito boi
mas junto de Jararaca
deu a gangrena e não foi
Jararaca o pegou
e torceu um cipó forte
abriu as pernas do cabra
para o sul e para o norte
amarrou cada, num pau
pra poder dar-lhe um surrote
Com a ira que estava
deu-lhe um tremendo castigo
só dava dentro das pernas
do seu rival inimigo
num lugar que sei o nome
porém eu morro e não digo
O vigia nunca mais
quis fazer papel de louco
tornou-se calmo e bisonho
muito retraído e choco
porque onde o pau bateu
inchou mais do que um coco
E depois de cinco anos
Maria regenerou-se
pra tirar o apelido
daquele lugar mudou-se
foi uma mulher de bem
com pouco tempo casou-se
Feliz do homem que tem
Seu coração amoroso
O vigia desgraçou-se
Um tipo vil criminoso
Zombou da mulher mas teve
A morte por seu repouso
FONTES CONSULTADAS
CAMPOS, F. S. As bravuras de Maria Jararaca. Jangada do Brasil, a. 11, n. 121, Fev. 2009. Disponível em: <http://www.jangadabrasil.com.br/revista/fevereiro121/cn12102.asp>. Acesso em: 10 nov. 2014.
GRANDES autores da Literatura de Cordel. Francisco de Souza Campos. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/cordel/1482607>. Acesso em: 10 nov. 2014.
HAURÉLIO, M. Francisco de Souza Campos. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://marcohaurelio.blogspot.com .br/2011/06/dicionario-basico-de-autores-de-cordel.html>. Acesso: 11 nov. 2014.
ÍNDICE de Autores. Francisco de Souza Campos. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://www.cibertecadecordel.com.br/ indice_autor_result_cordel.php?idautor=2311>. Acesso em: 10 nov. 2014.