Teófilo de Azevedo Filho é natural do Vale do Jequitinhonha, precisamente de Alto Belo, distrito de Bocaiúva (MG). Téo Azevedo, como é mais conhecido, nasceu no dia 2 de julho de 1943 (AZEVEDO, [19–]).
O editor do folheto Corinthians: o maior fenômeno do mundo ([19–]), ao biografar Téo Azevedo afirma que o poeta nasceu em Pires e Albuquerque (MG) que é o antigo nome do distrito de Alto Belo. Ao exaltar as qualidades de Téo, lembra: “ […] Descendente de uma família de músicos, poetas populares e escritores. Foi tricampeão mineiro de boxe, melhor compositor mineiro de 1968 e vencedor de vários festivais de nossa música popular. Folclorista nato e por amor às coisas folclóricas de sua região” (AZEVEDO FILHO, [19–]).
Artista múltiplo, o cordelista Téo Azevedo é reconhecidamente um grande compositor, cantor, declamador, escritor, folclorista, lutador de boxe, músico, produtor fonográfico, radialista, repentista e violeiro (AZEVEDO, [19–]; AZEVEDO FILHO, [19–]; TÉO …, [21–]).
Em seus versos autobiográficos, rimou:
Meu nome é Téo Azevedo Meu repente é garboso O causo que vou contar Me deixa muito orgulhoso Começou em Portugal Lá em Póvoa de Lanhoso Eu já gravei tanto disco Fiz tanta composição Sete livros editados Mil cordéis no meu sertão Mas, hoje essa história Comoveu meu coração (AZEVEDO, 2003, contracapa)
Natural da região da confluência dos rios Jequitinhonha e afluentes do rio São Francisco, Téo Azevedo apresenta o rio em seus versos. Poeta compositor que procura exaltar a cultura ribeirinha, cultura popular e preservação do rio São Francisco, paixões de Téo presentes não só em composições, como Velho Chico e Rio que Sente Sede, como no cordel O Barqueiro do Rio São Francisco:
Meus amigos vou contar Uma história de arrepiar Vou falar a verdade Sem nenhuma falsidade No Rio São Francisco Gravado até em disco Pirapora é a cidade Lá tinha um canoeiro Que era um bom mineiro Vivia da sua pescaria Não gostava de encrizia Veja só e seu destino Lhe aprontou um desatino Veja só a covardia Todo dia, bem cedinho Saia bem de mansinho Pegava a sua canoa Com chuva ou com garôa Partia com imensa fé Depois de tomar um café Prá uma pescaria boa Descia o rio, remando Uma Sétima, entoando Levava espigas de milho Escopeta bom gatilho Pescando para comer Veja o que foi acontecer Te faz sair fora do trilho Quando o sol ia se mandando Êle já vinha chegando Veja o susto, que horror Na choupana, o seu amor Estendida alí no chão Êle chorou de paixão Sofrendo uma grande dor. [...] (AZEVEDO FILHO, [19--])
Pai de Lancaster, Leandro e Aparecida, Téo é filho do violeiro legendário Teófilo Izidoro de Azevedo, conhecido como “Seu Tiófo” e Clemência Cristina de Azevedo (Dona Quelé), que também nasceram no Vale do Jequitinhonha, nos municípios de Carbonita e Terra Branca, respectivamente. Família simples, portadores de dom musical, com cinco gerações de músicos (AZEVEDO, [19–]).
Em 1950, seu Tiófo decidiu mudar-se com a família para o interior de São Paulo, mas no mesmo ano foi acometido de febre tifoide e faleceu, razão do regresso da família para Alto Belo, onde passaram por dificuldades e tentaram se estabelecer em Bocaiúva, terminando por residir na cidade mineira de Montes Claros (AZEVEDO, [19–]; TÉO …, [21–]).
Para auxiliar Dona Quelé no sustento da família de sete filhos, com apenas 8 anos, Téo era engraxate, carregador de malas e vendedor de frutas. Dos 9 aos 14 anos, trabalhou abrindo rodas de cantoria com o pernambucano Antônio Salvino, percorrendo o norte de Minas e o sertão baiano. A parceria surgiu quando Antônio Salvino viu Téo, na praça do antigo mercado de Montes Claros, convidando, por meio do repente em calango, seus clientes para engraxarem os sapatos. Téo desenvolveu seu dom de poeta cantador nos cinco anos de parceria com Salvino, que só foi encerrada porque este último ficou impossibilitado em razão de um acidente que sofreram quando iam de carona, na carroceria de um caminhão, em São Gonçalo dos Campos (BA) (AZEVEDO, [19–]; TÉO …, [21–]).
Devido a todas essas dificuldades, cursou apenas o primeiro ano do curso primário, mas escrevia seus cordéis. Por dois anos, Téo sobreviveu como repentista em feiras vendendo cordéis de sua autoria e de outros poetas. Depois seguiu para Belo Horizonte (MG), onde foi preso por vadiagem por tentar sobreviver cantando nas ruas da cidade. Como grande repentista, ao ser preso, cantou sua defesa versejando ser um real delito prender um cantador e assim obteve garantia para exercer o repente. Neste período, também foi catador de papel e engraxate, até encontrar Expedito, antigo amigo de Montes Claros, pintor de letras que não só ensinou a profissão a Téo, como lhe ofereceu trabalho. Ainda em Belo Horizonte, iniciou no boxe, aos 17 anos, quando conheceu as academias Geraldo Silva e Paissandú (AZEVEDO, [19–]; NOVAES, 2013; TÉO …, [21–]).
Grande admirador de Luiz Gonzaga, lançou o álbum Salve Gonzagão – 100 anos, por ocasião do centenário de nascimento do Rei do Baião e que foi considerado o melhor álbum de raiz, levando o poeta a vencer o Grammy Latino (AZEVEDO, [19–]; TÉO …, [21–]).
Téo Azevedo também deixou registrado, em cordel, sua paixão pelo ídolo:
O Encontro de Téo com Luiz Gonzaga no Parque Asa Branca Gente deste nosso Brasil Uma história importante De um encontro que tive Com um músico fulgurante Criador de tantos ritmos Do nosso Brasil gigante Prá mim foi emocionante O encontro espetacular Com esse poeta que sou fã Não cansei de admirar Sangue, arte e graça Ele tem pra não acabar Falo de Luiz Gonzaga O querido Rei do Baião Velho e cabra macho Que é mais que sensação Conhecido no Brasil todo De sanfona, chapéu, gibão Fiquei tão emocionado Ouvindo que ele dizia Relíquia de nossa música Protegido por Maria Grande músico e pessoa Que há muito não se via O encontro maravilhoso Na fazenda espetacular No parque da Asa Branca O mais lindo do lugar Pois só mesmo visitando A gente vai acreditar […] (AZEVEDO, 1978, p. 36)
Músico poeta autodidata, participou do conjunto musical do amigo Léo Baia, Os Embalados. Foi aclamado melhor compositor mineiro em 1968 pelo colunista Gérson Evangelista, do jornal O Debate. No ano seguinte, lançou seu primeiro LP, Brasil Terra da Gente (AZEVEDO, [19–]; PRIETO; NASCIMENTO, 20013).
Em entrevista ao jornal A Nova Democracia, em 2003, afirmou:
É muito comum as pessoas me chamarem de folclorista, pesquisador e outros adjetivos do gênero. Na verdade, não me considero nada disso. Para ser isso tudo, além do amor pela cultura, é preciso ter formação acadêmica. Sou um cantador violeiro, […], possuindo apenas a escola da vida, sendo o meu aprendizado na cultura, o fruto de minha própria vivência e criação, além de minha curiosidade de conhecimento e o fato de não ter vergonha de perguntar e aprender com quem sabe mais do que eu. Portanto, não sigo nenhum critério acadêmico, mas, com o amor pela cultura e dentro de meu conhecimento, procuro trilhar o caminho da simplicidade e da honestidade, fazendo a cultura de resistência do Brasil, terra da gente. (PRIETO; NASCIMENTO, 20013)
Apesar da sua fala, escreveu nove livros sobre cultura popular, proferiu palestra em universidades brasileiras e em Portugal sobre cultura popular brasileira (AZEVEDO, [19–]).
Foi crooner na noite paulista (1969) e constituiu seu próprio conjunto musical, porém sua excepcional habilidade é para o repente e a literatura popular, já tendo escrito mais de mil cordéis (AZEVEDO, [19–]; TÉO …, [21–]).
A Seca (linguajar catrumano) No ano qui a chuva cai Lá no meu norte mineiro Chuva dentro dos conforme Sem aquele aguaceiro A fartura é de montão É fava, mio e feijão E fica alegre o rocero Melancia de fartura Da matuta bem rajada Intoncebera de rio Daquela outra pintada O miolo vermeinho Com um cardo bem docinho Qui eu chupo dez taiada Com a chuva se tem tudo Do maxixe ao quiabo Mais que vê o trem bem feio Não existe homi brabo Uma seca no sertão Parecia coisa de cão Mandada pelo diabo […] (AZEVEDO, 2003, p. 19)
FONTES CONSULTADAS
AZEVEDO FILHO, Teófilo de. Corinthians, o maior fenômeno do mundo. São Paulo: TAF, [19–]. 27 p. [+1] : 66 estrofes : sextilhas : 7 sílabas.
AZEVEDO FILHO, Teófilo de. O barqueiro do Rio São Francisco. [S.l. : s.n., 19–]. 8 p. : 24 estrofes : sextilhas : 7 sílabas. Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=cordel&pasta=&pesq=O%20barqueiro%20do%20rio%20Sao%20Francisco>. Acesso em: 10 out. 2017.
AZEVEDO, Téo. Biografia de Téo Azevedo. São Paulo: [s.n., 19–]. 12p. : 5 estrofes : sextilhas : 7 sílabas. Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=cordel&pagfis=54828>. Acesso em: 9 out. 2017.
AZEVEDO, Téo. Téo Azevedo. São Paulo: Hedra, 2003. 70 p. (Biblioteca de cordel). ISBN 8587328700.
AZEVEDO, Teófilo de. Literatura popular do norte de minas: a arte de fazer versos. São Paulo, 1978.
NOVAES, Luis Carlos. Téo, uma vida. JN Jornal de Notícias, Montes Claros, 27 MAIO 2013. Disponível em: <http://www.jnnoticias.com/index.php/artigos/detalhes/28164/teo-uma-vida-luis-carlos-novaes>. Acesso em: 11 out. 2017.
PRIETO, José Ricardo; NASCIMENTO, Luísa. Téo Azevedo: cantador popular do Norte de Minas. A nova democracia, Rio de Janeiro, mar. 2003. Disponível em: <http://anovademocracia.com.br/no-7/1216-teo-azevedo-cantador-popular-do-norte-de-minas>. Acesso em: 11 out. 2017.
TÉO Azevedo. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. [S.l.] : Instituto Cultural Cravo Albin. [21–]. Disponível em: <http://dicionariompb.com.br/teo-azevedo/biografia>. Acesso em: 11 out. 2017.