Eneias Tavares dos Santos (22/11/1931)
Eneias Tavares dos Santos, alagoano, nasceu em 22 de novembro de 1931 na cidade de Marechal Deodoro. De origem humilde, filho de agricultores, não obteve a sua formação primária completa, estudando já na vida adulta, música, pintura e desenho, desabrochando, assim, suas veias artísticas no universo da xilogravura e da literatura.
Quanto à xilogravura, esta, ele aprendeu sozinho, desenvolvendo vários trabalhos, como exemplo, a Via-Sacra para a Galeria de Arte de Aracaju- SE. Cabral (2014) referencia Aurélio (2010) ressaltando que entre outros poetas que se destacaram na produção da arte xilográfica, encontra-se Eneias Tavares dos Santos.
Já a literatura de cordel, adentra no cenário de sua vida em 1947, ano em que Eneias esteve na Bahia, travando conhecimento com o cordel, retornando para sua terra natal, como vendedor de folhetos (HAURÉLIO, 2011).
Na sua carreira profissional, trabalhou no Conservatório de Música de Sergipe, além de ter sido também funcionário do Museu Théo Brandão, na capital alagoana, Maceió (HAURÉLIO, 2011).
Dessa feita, percebe-se que antes de descobrir o seu talento enquanto escritor, Eneias trabalha como um semeador de folhetos, e este contato com essa fascinante forma de escrever, de se expressar, de falar ao outro, fez desabrochar a sua veia artística, que ora estava adormecida, acordando como um vulcão que surge em erupção no ano de 1953, quando escreveu o seu primeiro livro, intitulado: O cavalo Ventania, escrevendo posteriormente entre outras obras: O pai traidor, O cangaceiro Isaías e A carta de Satanás a Roberto Carlos, este último foi o seu maior êxito comercial.
Seus poemas versam, sobre moralidade, animais, casos extraordinários e aberrações.
Lamentação de um cavalo indo para o matadouro
Neste mundo escandaloso
Quanta coisa tem se dado!
Mas o povo não se lembra
De Deus, nosso pai amado
Vive desonestamente
Sem ver que futuramente
Vai tudo ser castigado.
Pega o homem os animais
Vende para o matadouro
Para xarque ou mortadela
Numa falta de decoro
Por isso é que brevemente
Satanás pega essa gente
E no inferno tira o couro.
O homem acaba tudo
Quando a natureza cria
Acaba o gado e as aves,
— Tem até quem coma gia—
De cobra até o leão
Da baleia ao camarão…
E a fome não sacia.
O povo vive a deriva
Sem religião, sem nada
Por isso é que um fazendeiro
Criatura desalmada
Agora em Minas Gerais
Vendeu vários animais para uma xarqueada.
Na carrada ia: jumento,
Cavalo, burro e cachorro
Um zurrava, outro latia
Como quem pede socorro
— ou talvez fosse dizendo:
Pelo jeito que estou vendo
Dessa vez sei que morro.
Porém entre os animais
Ia um cavalo alazão
Muito velho e muito magro
Que causava compaixão
Estava sendo vendido
Porém já tinha servido
Muitos anos ao patrão.
(p.3-4)
[…]
Neste poema, percebemos fortemente a interseção de uma das temáticas abordadas por Tavares, em seus escritos, a temática animal, que ele entrelaça em um paralelo, real e ficcional, demonstrando nuances da realidade cotidiana vivida pelos animais.
FONTES CONSULTADAS
CABRAL, G. G. Relatos orais, memória e narrativa: histórias do poeta José Costa Leite 1950-1960. [S.l.: s.n.: 20?]. Disponível em: <http://www.encontro2012.historia oral.org.br/resources/anais/3/1340373289_ARQUIVO_ArtigoGeovanni-XIEncontroHistoriaOral.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.
ENEIAS Tavares dos Santos. In: O Nordeste. [S.l.: s.n.: 20?]. Disponível em: <http://www.onordeste.com/onordeste/ enciclopediaNordeste/index.php?titulo=En%C3%A9ias+Tavares+dos+Santos Produção literária>. Acesso: 18 nov. 2014.
HAURÉLIO, M. Dicionário básico de autores de cordel. [S.l.: s.n.: 20?]. Disponível em: <http://marcohaurelio.blogs pot.com.br/2011/06/dicionario-basico-de-autores-de cordel.html>. Acesso em: 19 out. 2014.
PERFIS Biográficos. Fundação Casa Rui Barbosa. [S.l.: s.n.: 20?]. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa. gov.br/cordel/janela_perfis.html>>. Acesso em: 23 out. 2014.