Índio é o pseudônimo do cordelista paraibano José Pedro de Lima, nascido em Dona Inês (PB) em 15 de maio de 1946. Homem simples, com expressiva produção cordelística para quem começou a versejar aos 60 anos, pois já escreveu mais de quatro centenas de folhetos. Foi o vencedor do Concurso Novos Escritos da Fundação Cultural de João Pessoa (FUNJOP), em 2007, na categoria literatura de cordel publicando Irineu: o terror de Mangabeira (CORDELISTA…, 2016; LIMA, V.1).
José Pedro é o segundo filho de Manoel Pedro Pereira e Severina Luiz de Lima, com quem aprendeu a ler, escrever e contar, pois só pôde frequentar a escola por poucos dias (CORDELISTA…, 2016).
Casado com Miriam de Lima, com quem tem seis filhos: Júnior, Felipe, Lucas, Eliomar, Emanuel e Socorro. Reside no litoral sul paraibano, em Barra de Gramame, ganhando a vida vendendo espetinhos de churrasco às margens do rio no limite entre João Pessoa e o Conde (LIMA, V.1).
Verseja, praticamente, sobre todos os temas do cordel. Um deles foi destaque em matéria publicada no jornal Correio da Paraíba por abordar formas de prevenção contra o vírus da Zika onde podemos ler os versos iniciais do folheto de 8 páginas, produção de número 327, intitulado Zika Zero:
Existem onze maneiras Do tal Zika combater Preste bastante atenção É fácil de aprender Nunca deixe água parada Manter a caixa fechada Assim podemos vencer (CORDELISTA …, 2016).
Na mesma matéria jornalística, encontramos a informação de que José Pedro de Lima começou a escrever cordéis após uma reportagem local sobre a qualidade das vias de acesso à Barra de Gramame, e o poeta apresentou alguns de seus versos sobre a péssima situação das estradas. O repórter elogiou e aconselhou José Pedro a investir no seu dom. Estimulado pelas palavras de apoio, Índio procurou participar de oficinas de cordel e deu início à sua produção independente (CORDELISTA…, 2016).
Cordelista historiógrafo memorialista, narra fatos passados e contemporâneos, como seus cordéis autobiográficos e sobre a corrupção política. Eis os trechos de Minha História Contada em Verso 1, folheto nº 342:
Foi lá nos anos cinquenta O mês eu não estou lembrado Nessa época meu pai tava Dois meses desempregado Meu pai disse Severina Andei em toda Campina E não ganhei um cruzado Era crise em todo Estado E emprego nem pensar Meu pai tinha profissão Era um pedreiro exemplar Que andava permanente Nem uma vaga de servente Conseguia encontrar Era pra lá e pra cá Andava o dia inteiro Trabalhava em qualquer coisa Para conseguir dinheiro Andava igual besta tonta Pra ver se pagava a conta Que devia ao leiteiro […]
Cada pessoa traz em si uma coletividade, são suas memórias de grupo e experiências vividas. Assim José Pedro expressa sua sofrida história de vida, das dificuldades passadas quando residia em Campina Grande (PB), com apenas 7 anos, com seus pais Manoel e Severina e mais quatro irmãos, e tiveram que migrar para Pombal (PB), onde residiram debaixo de uma ponte por quase um ano, como verseja em Minha História Contada em Verso 2.
Sofríamos de fazer dó Naquele lugar friento Embaixo daquela ponte Expostos a chuva e ao vento Confesso meu camarada Que durante a madrugada Pra nós era um sofrimento […] Quase um ano E nós no mesmo lugar Foi aí que a minha mãe Inventou de engravidar Pra nossa felicidade Pai aluga na cidade Uma casa pra morar […] Tudo foi se encaixando No seu devido lugar Seu Zé e pai trabalhando Nada mais ia faltar Só que para complicar A mãe foi engravidar Tudo voltou a piorar […]
O pai do poeta era exímio pedreiro e em Pombal/PB trabalhou na construção do cinema, como nos conta rimando, na página 2 do Minha História Contada em Verso 3, cordel nº 344:
[…] O meu pai na obra era Quase o encarregado O dono ficava ali Feliz e muito animado E naquela correria Em ritmo acelerado Pai tinha o maior cuidado Pra tudo ficar perfeito O dono ali do seu lado Ficava bem satisfeito Enquanto ia o serviço Era feito no capricho Com qualidade e bem feito Dessa maneira o cinema Rápido era construído O dono muito feliz Em ver seu prédio erguido Pra que adultos e crianças Tivesse a esperança De ter seu show garantido
Com a separação dos pais, a mãe decidiu migrar para o estado do Rio Grande do Norte onde José Pedro foi agricultor. Anos depois, trabalhou como armador na construção das pontes de Picuí e Trapiá. Com o término das obras, foi com a construtora para Campina Grande (PB) e após 23 anos reencontrou seu pai, como versou em Minha História Contada em Verso 4, cordel de número 345.
Bem que eu queria acabar Mais ainda não dá não A cidade de Pombal Traz muita recordação Da ponte que me hospedei Do rio onde pesquei Até piaba de mão Ali vivemos um tempão Até as coisas mudar Quando mãe viu que a gente Já podia trabalhar Então não mediu distância Juntou ali as crianças Fomos pra outro lugar Dessa vez fomos morar Bem distante de Pombal O Rio Grande do Norte Pra nós foi o ideal Logo que a gente chegou Viramos agricultor Pra nós foi muito legal E foi na agricultura Que a gente se criou Foi onde aprendi tudo Que faz o agricultor Cortei lenha de machado Capinei limpei roçado Cortei terra e trator […] Respondi pra ele tudo Que possa imaginar Sei limpar mato e roçado Sei colher e sei plantar Ele disse cidadão Meu ramo é a construção Tem coragem de enfrentar […]
Em conversa com José Pedro de Lima, ele refletiu que seu dom é divino e sua inspiração vem do cotidiano e suas memórias. Da ligação entre vida e memória presente nos seus versos biográficos memorialísticos, apreciamos rastros de sua vida e a construção de sua identidade.
FONTES CONSULTADAS
CORDELISTA José Pedro Lima se inspira no combate ao vírus da Zika. Correio da Paraíba Online, João Pessoa, 28 jun. 2016. Disponível em: <http://correiodaparaiba.com.br/cultura/musica/cordelista-jose-pedro-lima-se-inspira-no-combate-ao-virus-da-zika/>. Acesso em: 14 out. 2017.
LIMA, José Pedro. Minha história contada em verso: cordel 1, nº 342. [Conde]: [S.n.], [21–].
LIMA, José Pedro. Minha história contada em verso: cordel 2, nº 343. [Conde]: [S.n.], [21–].
LIMA, José Pedro. Minha história contada em verso: cordel 3, nº 344. [Conde]: [S.n.], [21–].
LIMA, José Pedro. Minha história contada em verso: cordel 4, nº 345. [João Pessoa]: [S.n.], [21–].