O poeta cantador João Siqueira de Amorim nasceu em Barbalha (CE) em 16 de junho de 1913 e faleceu aos 82 anos, no dia 16 de novembro de 1995. O esposo de Dona Raimundinha era filho de pais humildes e não teve acesso à educação formal, mas ouvindo o repentista alagoano Zé Félix, ainda criança, decidiu ser cantador (PAULINO, 2011; VIEIRA, 2013a; VIEIRA, 2013b).
Vieira (2013b) conta que o repentista dedicou-se ao cordel após perder a voz por problemas na laringe, consequência de uma cirurgia para retirada de uma espinha de peixe, mas Viana (2011) diz que o cantador “[…] perdeu a voz após uma exaustiva maratona de apresentações Nordeste afora”. Ambos mencionam várias homenagens feitas para Siqueira, de poemas historiando o incidente à canção intitulada Voz do Siqueira, de Alberto Porfírio.
Fundou o jornalzinho A Voz do Cantador (Fortaleza, 1956), veículo de comunicação da Associação dos Cantadores do Nordeste, com primeiro número datado de 1 de janeiro de 1956 (PAULINO, 2011).
Paulino (2011) relata que Siqueira não se deixou vencer, apesar da tristeza pelo incidente sofrido, e por meio de sua verve poética assim se expressou:
Passarinho lavandeira, Canta e diz para a cidade Que a viola do Siqueira Emudeceu de saudade!... Qual a razão, quais os males Que fiz aos meus semelhantes Para perder minha voz No curso de alguns instantes? Às vezes, sonho cantando, Mas é o sonho enganando As minhas cordas vocais; De alegria me transbordo, Porém depois quando acordo Tudo é mudez… nada mais. Quanta tristeza me invade Quando a manhã vem raiando: Eu ouço o concerto alegre Da passarada cantando… Acordes da melodia Trazem aquela alegria Da aurora que surge além, Enquanto eu, mudo, enlutado, Me lembro que no passado Já fui cantador também. Em certas horas soluço Qual um órfão pela rua; Chora comigo a saudade Nas noites claras de lua… Meus tempos de cantorias, Meus “quadrões”, minhas porfias, No litoral, nos sertões. O sabiá sem gaiola Perdeu a voz, a viola, O sonho, a rima, as canções… Nesses momentos divinos Sob estranhos pesadelos, Chegam-me versos e rimas, Mas eu não posso dizê-los: Minha viola querida Lá num canto emudecida, Como quem tudo perdeu. Quero cantar, como outrora, Procuro a voz, foi embora, Minhalma também morreu!...
O extraordinário cantador Siqueira de Amorim começou a cantar em 1928. Na trajetória, fez dupla com o violeiro Domingos Fonseca e outros repentistas, como Rogaciano Leite, Cego Aderaldo e Granjeiro. Foi funcionário público e jornalista, tendo chegado a Fortaleza (CE) no ano de 1935, passando a contribuir nos jornais Gazeta de Notícias, O Povo, O Estado e Correio do Ceará; neste último, manteve a secção Poesia Popular. Foi sócio efetivo da Associação Cearense de Imprensa (ACI) desde 1950 (PAULINO, 2011; VIEIRA, 2013b).
Vieira (2013b; 2013a) conta que entrevistou Siqueira para o programa Canto Sertanejo da Rádio Pitaguary, na década de 90. Nesse momento, expressou manter sua existência ao rimar cordéis, além de divulgar possuir material inédito para publicação, e apesar de não possuir condições financeiras, nem apoio de instituições culturais, tinha esperança de vir a lançar. Vieira (2013a) conta que alguns anos após o falecimento de Siqueira, “os originais guardados em ambiente insalubre, na velha residência, foram destruídos”.
O autor de Ecos da Juventude (1949) publicou cordéis, como Os Estrupícios da Cachaça (1986). (VIEIRA, 2013b)
Depois de falar um pouco Da vida do macumbeiro, Palavra que representa O mesmo catimbozeiro, Vou tirar algumas lapas Do couro do cachaceiro. Vejam bem, caros leitores, O que é que a cachaça faz: Desce queimando a garganta Numa fusão de água e gás, Depois sobe pra cabeça Transformando em satanás! O viciado em bebidas Sempre dela se socorre, Para o calor, para o frio, Toma todo dia um porre, Só vive matando o “bicho” E esse bicho nunca morre... (AMORIM, 1986)
Vieira (2013a) lançou Nos caminhos da Vida de Siqueira de Amorim, reprodução das crônicas de Siqueira publicadas em jornais de Fortaleza, entre as décadas de 40 e 60. O pesquisador assim descreve o cantador cordelista: “[…] não foi somente um poeta repentista ao som da viola, mas um formador de opinião, admirado por colegas do repente e intelectuais. Compunha a elite de cantadores de sua época […]”.
FONTES CONSULTADAS
AMORIM, Siqueira de. Os estrupícios da cachaça. [s.n.]: Ceres, 1986. 8 p.
VIANA, Arievaldo. Alberto Porfírio: um mestre da poesia popular. [S.l. : s.n.]. In: Acorda Cordel. 22 jun. 2011. Disponível em: <http://acordacordel.blogspot.com.br/2011/06/alberto-porfirio_22.html>. Acesso em: 30 ago. 2017.
VIEIRA, Guaipuan. Livro narra história de Siqueira de Amorim. [S.l. : s.n.]. In: Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE). 24 maio 2013a. Disponível em: <http://amlece.blogspot.com.br/>. Acesso em 30 ago. 2017.
VIEIRA, Guaipuan. Siqueira de Amorim. [S.l. : s.n.]. In: Centro Cultural de Cordelistas do Nordeste (CECORDEL). 25 jan. 2013b. Disponível em: <http://cecordel.blogspot.com.br/2013/01/siqueira-de-amorim-por-guaipuan-vieira.html>. Acesso em: 30 ago. 2017.
PAULINO, Pedro Paulo. Lamento de um cantador. Canindé: [s.n.]. In: Vila Campos Online. 8 jul. 2011. Disponível em: <http://vilacamposonline.blogspot.com.br/2011/07/poesia.html>. Acesso em: 01 set. 2017