José Acaci
José Acaci é professor, compositor e poeta cordelista. Nascido em Macaíba, Rio Grande do Norte, Acaci herdou do pai, Chagas Ramalho, o dom e a paixão pela literatura de cordel e, da mãe, Dona Mariquinha, a sabedoria e a garra para enfrentar as batalhas da vida sempre sorrindo. Membro da ANLIC – Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel, da SPVA – Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, e da Associação Internacional Poetas Del Mundo, o poeta recebeu o título Consul Poetas Del Mundo, pela Associação Internacional Poetas Del Mundo, com sede no Chile, o Mérito Luiz da Câmara Cascudo, pela Academia Caxambuense de Letras, em Caxambu, Minas Gerais, e o Mérito Noel Rosa, pela Associação Brasileira de Dentistas Escritores, São Paulo/SP, e, no ano 2011, José Acaci representou a cultura potiguar no XV Congresso Brasileiro de Folclore, que aconteceu em São José dos Campos, São Paulo, a convite da Comissão Brasileira de Folclore.
O seu primeiro livro foi Histórias de Rio pequeno – Uma Viagem Poética sobre a História de Parnamirim. Autor também dos CDs Cordas e Cordéis e Do Cordel à Embolada e de mais de sessenta folhetos de literatura de cordel, Acaci lança agora a segunda edição de Conselhos Pra Juventude.
Em sua poética, José Acaci traz a lume discussões de caráter acadêmico, a exemplo do cordel Sobre o Direito Romano, como se pode verificar nos fragmentos que seguem:
Recebi um desafio
de um velho camarada
que eu fiquei duvidoso
se topava essa empreitada:
Pensar num texto em cordel
e escrever no papel
sem cometer um engano,
ser bastante categórico
e escrever um breve histórico
sobre o Direito Romano
[…]
Também quero acrescentar
a ação dos senadores
cujas deliberações
guiavam os imperadores.
era o Senatus-Consultus,
que junto aos jurisconsultos
com suas opiniões,
ditaram de frase em frase,
e assim formularam a base
para as constituições.
Eu vou terminando aqui
botando em primeiro plano
a importância do estudo
sobre o Direito Romano.
Que esse cordel seja um prumo
pra que você tenha um rumo
e lhe sirva como guia,
se acaso tenha gostado,
lhe digo muito obrigado,
adeus, até outro dia
Outra característica da obra de Acaci é o poema de circunstâncias, a exemplo do “Cordel sobre Tortura” que recebeu o apoio do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Nenzinha Machado, CEDDH-PI, Coordenação Geral de Combate à Tortura, da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal. Ei-lo na íntegra:
Para mostrar esses versos que apresento
Eu me visto no manto da humildade
Pois não quero ser dono da verdade,
Quero apenas chamar a atenção nesse momento
Para essa ferida na estrutura
Da sociedade e na cultura
De um povo sofrido, que rejeita,
Mas ao ficar calado, ele aceita
Essa praga chamada de tortura.
Quem se sente à vontade para pensar
Em promover ou apoiar a tortura,
Estará cometendo uma loucura,
Uma insanidade milenar.
É preciso parar para pensar
Que a tortura é uma barbaridade.
É a mão consciente da maldade
Trabalhando com projetos e planos
Pra trazer para nós seres humanos
Sofrimento, injustiça e crueldade.
A tortura transforma nós humanos
Nos mais vis dos mais vis seres que existem,
E o silêncio daqueles que assistem
E se calam, também comete danos.
O Brasil, a mais de quinhentos anos,
Utiliza da prática da tortura,
Desde a colonização á ditadura.
Dos escravos trazidos nos porões
Até hoje, no escuro das prisões,
Essa prática mantém sua estrutura.
Na tortura tem a ação ativa
Do agente que é o torturador,
Além do torturado, o sofredor,
E da sociedade permissiva.
Quem se cala é agente da passiva,
pois permite que um crime aconteça,
Sem que o criminoso reconheça
E pague pelo crime cometido
Contra quem deveria ser punido
Com a pena que acaso ele mereça.
Os indígenas foram torturados
E até hoje ainda guardam na memória
Os momentos cruéis da sua história
Com irmãos e parentes dizimados.
Não podemos ver e ficar calados
Ao saber que essa prática funesta,
Uma ação ignóbil como esta,
É usada pra arrancar confissões,
Promovendo dores e humilhações,
Sofrimentos e tudo que não presta.
As torturas guardadas na memória
Não merecem ficar na impunidade.
Foram crimes contra a humanidade,
Mas que foram julgados pela história.
Numa guerra, quem obtém vitória,
Perpetua a surdez e a cegueira,
Conta os fatos, mas à sua maneira,
O grilhão da tortura ele destrói,
E por trás da verdade se constrói
Uma história que não é verdadeira.
Na história recente brasileira
E nos noticiários atuais,
As torturas já são casos banais,
E esse tema é notícia corriqueira.
É preciso frear essa carreira
No caminho febril da impunidade,
E lutar para que a sociedade
Abra os olhos da sua indiferença,
Para tentar se livrar dessa doença
Que assola valor da humanidade
Sucessivos governos brasileiros
Assinaram convenções e tratados.
Protocolos foram ratificados,
E os países seguiram esses roteiros
De ações em busca dos verdadeiros
Culpados pela prática das torturas,
É constante essa luta nas procuras
Pelos torturados e mandantes.
É luta de vitórias flutuantes,
E vitórias de poucas criaturas.
Num país que sua lei objetiva
Que é crime o ato de torturar,
Não se sente de bem ao se falar
Da pessoa que faz ou incentiva,
Da que assiste de forma permissiva,
Das que vêem e que ficam caladas,
Ou acham que as pessoas torturadas
Merecem todo aquele sofrimento.
Isso é coisa que não tem cabimento
Em nações que se dizem respeitadas.
Não podemos ficar indiferentes
À tortura em qualquer modalidade,
E nenhuma ação com gravidade
Justifica as torturas conseqüentes.
E as pessoas que assistem coniventes
Apequenam nossa sociedade
Quando, num ato de leviandade,
Deixam pessoas serem torturadas,
Espancadas, marcadas, humilhadas,
E feridas na sua integridade.
Há exemplos de gente torturada
Simplesmente por não ter documento
Ou por estar jogada ao relento
Cochilando na fria madrugada.
E por qualquer motivo é espancada
Seja por opção sexual,
Sua condição psíquica e mental,
Sua raça, sua cor, sua cidade,
O seu gênero, o seu time, sua idade,
Ou a sua condição social.
Precisamos que a sociedade
Abra os olhos contra todos os fatos
Que sejam associados a maus tratos
Sofrimentos e a impunidade.
Precisamos que em cada cidade
Aconteça uma conscientização
Dos direitos de cada cidadão,
E que todos se engajem na procura
De uma sociedade sem tortura,
Essa coisa sem lógica e sem razão.
Em resumo, o que estamos precisando,
É de um pouco de amor no coração,
Mais respeito para o cidadão,
E atenção para quem está precisando.
Omitir é como estar apoiando
A tortura, esta ação má e servil.
E essa nossa luta varonil
Deve ser incansável e persistente,
Pra um dia dizermos plenamente
“Acabou-se a tortura no Brasil.”
FONTES CONSULTADAS
ACACI, José. Cordel sobre tortura. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <Users/Joao/Downloads/Cordel%20sobre% 20tortura%20(1).pdf>. Acesso em: 20 jul. 2014.
ESPAÇO do cordel. [S.l.: s.n., 20?]. Disponível em: <http://espacodocordel.blogspot.com.br/search?updated-min=2012-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&maxresults=17>. Acesso em: 20 nov. 2014.